Resumo: O objetivo geral deste estudo é o de entender o uso de recursos tecnológicos na prática de tradução e, assim, contribuir para os Estudos da Linguagem e da Tradução, sobretudo, o movimento que o advento tecnológico provoca na identidade do tradutor e na prática tradutória. No mercado de traduções, a atividade tradutória parece apenas ser viável pela idealização tecnológica, ou seja, a qualidade da tradução é colocada como um ideal de perfeição, impecabilidade e maestria apenas possível pelo aparato tecnológico, responsável por apagar deslizes tributários da imperfeição humana e da equivocidade da língua. Diante disso, apresentamos a hipótese de que as tecnologias de tradução funcionam como enxertos, próteses, substitutivos imprescindíveis ao conhecimento linguístico do tradutor, instaurados como um fetiche o qual assegurará a legitimação da qualidade tradutória. Os recortes discursivos, advindos das entrevistas conduzidas por Skype e Facebook, com 19 tradutores, formaram dois eixos de análise. No primeiro, notamos, por parte de alguns tradutores, aderência à hegemonia tecnológica, refletindo representações de si enquanto parte de uma elite tecnológica por possuir expertise em softwares atualizados para a realização do ato tradutório. No segundo eixo, observamos, por parte de outros tradutores, resistência à imposição tecnológica, realçando representações de si como integrantes de um grupo desvalorizado, consciente de que precisa lidar com as exigências do mercado de traduções. Diante disso, conectamos a concepção freudiana de fetichismo como uma atitude de submissão à tecnologia e a concepção marxista de fetichismo como um anseio de objeção à tecnologia. Na primeira, é necessária a presença de algum elemento externo, substituindo o pênis, para a realização sexual. Na segunda, a mercadoria é transformada de matéria inorgânica à criatura orgânica para a realização comercial.
Palavras-chave: Tecnologia - Serviços de tradução; Análise do discurso; Fetichismo; Identidade (Conceito filosófico); Representação (Linguística).