Resumo: Neste trabalho, analisamos o funcionamento dos discursos sobre a prostituição na literatura do Rio de Janeiro do século XIX, particularmente nos romances: Lucíola (1862), O Cortiço (1890) e Bom-Crioulo (1895). Visamos explorar o movimento tenso e contraditório entre a dominação ideológica e a produção de efeitos discursivos nos romances estudados. A partir do quadro teórico e analítico da Análise de Discurso, buscamos estabelecer nosso arquivo de leitura mobilizando a relação da literatura com outros domínios de saber (discursos médico e jurídico). A articulação contraditória entre os discursos do direito penal e os discursos da medicina higienista constituem um ponto central na leitura dos romances analisados. Em outros termos, nosso objetivo central é discutir o investimento do saber moderno oitocentista sobre as formas como a prostituta e a prostituição são significadas na literatura. Observamos uma dupla regularidade nesse arquivo: a oposição entre “mulheres honestas” e “mulheres públicas” inscreve a “mulher” em um universo semanticamente normal; a prostituição em sua relação com a sexualidade dita “desviante” é significada como degenerescência física e moral, isto é, uma “doença social”. Em ambos os casos, há a construção de um imaginário social que delimita o espaço de circulação da mulher na cidade.
Palavras-chave: Análise do discurso; Espaços públicos - Rio de Janeiro (RJ); Literatura brasileira - Séc. XIX; Prostituição na literatura; Prostitutas na literatura; Sexualidade.