Resumo: O objetivo geral deste trabalho é apresentar a noção de tradução como obra, nos termos em que essa noção é desenvolvida no contexto da obra crítica e teórica do pensador francês Antoine Berman, dando-se ênfase à discussão de duas linhas de força que formarão seus principais pressupostos: uma visão particular da crítica e da obra de arte, tributária de sua leitura e compreensão do ideário romântico alemão; e sua experiência na América Latina, onde, entre 1970 e 1975, Berman foi fortemente impactado tanto por certos aspectos do movimento peronista quanto por certas manifestações tradicionais da convivialidade, que o autor vivenciou junto ao povo argentino na época. A partir disso, será apresentada uma discussão do modo como essa matriz romântica vai se deixando contornar, aos poucos, por uma ética da convivência, elaborada a partir de sua experiência latino-americana, e de suas implicações tanto para um redimensionamento da noção de autonomia da tradução literária e de seu estatuto crítico quanto para a reconsideração do lugar da tradução no contexto francês no qual o autor está inscrito. Desse modo, além de apresentar uma leitura da obra crítica e teórica de Berman do ponto de vista de seu percurso de formação, este trabalho evidencia também o modo particular como sua obra se aproxima de questões contemporâneas que continuam candentes tanto no campo disciplinar dos Estudos da Tradução quanto no âmbito da crítica, da história e da teoria literárias.
Palavras-chave: Berman, Antoine, 1942-1991 - Crítica e interpretação; Tradução e interpretação; Literatura alemã - Traduções para o francês; Literatura latino-americana - Traduções para o francês; Ética na literatura; Convivência.