Resumo

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Do Bronze a Homero: história, autoria, ethos militar na Ilíada e ethos econômico, comercial e emergente na Odisseia

João Miguel Moreira Auto

Orientador(a): Flávio Ribeiro de Oliveira

Doutorado em Linguística - 2015

Nro. chamada: TESE DIGITAL - Au82d


Resumo:

A chegada dos gregos à Grécia continental no começo do segundo milênio, a ascensão da civilização micênica na segunda metade do milênio, seu colapso no século XII a.C., quando contingentes populacionais dóricos invadiram a Grécia continental trazendo a tecnologia do ferro, e a transição que se estendeu durante a “Idade das Trevas” são eventos que formam um contexto histórico necessário para que se compreenda a Odisseia como a representação de um ethos econômico e comercial emergente e a Ilíada como a representação de um ethos militar. Analisando alguns artefatos arqueológicos e a arquitetura dos micênicos e comparando-os com a arte minoica encontram-se sinais de uma cultura comercial e militarmente organizada, no Egeu da Idade do Bronze Tardia. A partir disso entende-se melhor o processo de crescimento econômico e de construção de uma identidade étnica em que os gregos estavam mergulhados durante o século VIII a.C. A posição intermediária que Homero ocupa numa sociedade que transita de um período pré-histórico para um período historiado e a maneira como os gregos do século VI a.C. e, talvez, mesmo de antes, viram Homero como autor podem ser correlacionadas, uma vez que podem ser entendidas como decorrendo, em alguma medida, da introdução do uso de uma escrita alfabética em uma cultura oralizada. O cotejo entre os textos de Homero e os dados da Idade do Bronze que se sabe através da arqueologia dá-nos uma medida mais exata do alcance e do limite da memória que Homero retém do passado. A passagem para uma sociedade com compreensão histórica muda a percepção que se tem do tempo e completa-se mais claramente em Heródoto. Na comparação entre os dois grandes poemas épicos da Grécia, a Odisseia aparece como um texto voltado para o entretenimento (com acontecimentos maravilhosos, bem como festins suntuosos) e a Ilíada como um texto voltado para uma educação militar. Na Ilíada, Aquiles desempenha um papel notável na disputa com Agamêmnon, aparecendo como um guerreiro grandioso em contraste com um homem poderoso e investido de maior autoridade real. Pode-se dizer que, na Ilíada, poder, força e beligerância figuram como valores admiráveis, dignos de serem poeticamente fruídos, ao passo que, na Odisseia, Homero descreve ricamente um cotidiano luxuoso. O caráter econômico e mercantil dessa epopeia materializa-se na forma de navios e numa balsa e é ilustrado pelo caráter de Odisseu, que, por um lado, viaja pelo mar, de tribulação em tribulação, sempre se adaptando, em sua versatilidade, às diferentes dificuldades locais, conforme encontra ou não hospitalidade em lugares estranhos e, por outro, não abandona sua preocupação exaustiva com o lar. Em seu mundo, a casa (oîkos) e a pólis rivalizavam em algumas funções sociais importantes, tais como a administração de atividades mercantis, a produção pecuária e, mesmo, a proteção de indivíduos contra qualquer sorte criminosa de violência. A cidade-Estado, não obstante, tomava corpo. De algum modo, a esfera pública surgiu em decorrência do desenvolvimento econômico do oîkos, por desdobramento, a partir da iniciativa privada de homens poderosos. O período foi uma alvorada histórica.

Palavras-chave: Homero. Odisseia - Crítica e interpretação; Homero. Ilíada - Crítica e interpretação; Idade do bronze - Grécia; Autoria; Grécia - Usos e costumes; Grécia - Aspectos econômicos; Grécia - Aspectos militares

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