Resumo: As Epístolas Morais a Lucílio, ainda que sejam consideradas por muitos estudiosos umas das mais importantes obras de Sêneca, costumam ser criticadas tanto por, alegadamente, se resumirem a um conjunto de exortações de cunho moral (preceitos), sem maior fundamento doutrinário, quanto por, segundo em geral se supõe, não apresentarem sistematicidade. No entanto, um olhar mais atento à carta 94 e à seguinte, a 95, nos permite notar que o próprio Sêneca chega a tematizar a questão do papel dos preceitos, i.e. do valor da parte da filosofia denominada preceptiva (de ordem prática, regida por praecepta), frente à dogmática (parte da filosofia de ordem teórica, regida por decreta). Para tanto, nessas cartas, o filósofo adota uma forma de argumentação consideravelmente organizada, além de fazer uso regular de certas imagens referentes a decreta e praecepta. Levando isso em conta, e tendo estudado tais aspectos na Ep. 95, nossa investigação da Ep. 94 se dedica à hipótese de que o texto do filósofo apresenta certa sistematicidade, ao menos no que tange à sua argumentação sobre os referidos métodos de ensino filosófico. Uma tradução completa e anotada da Ep. 94 acompanha o nosso estudo.
Palavras-chave: Sêneca. Epistulae morales - Crítica e interpretação. Cartas latinas - História e crítica.Epistola latina.