Resumo

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As cores da nação : um estudo discursivo de artigos colocados em circulação pela mídia impressa sobre o novo lugar do "negro" no conjunto da sociedade nacional

Fabiane Teixeira de Jesus

Orientador(a): Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo

Doutorado em Linguística - 2014

Nro. chamada: T/UNICAMP - J499c


Resumo:
"Isso tudo não está tão mal", disse Montaigne, fazendo um relato considerado elogioso aos tupinambás. Lá pelas tantas, o filósofo desabafa: "Mas eles não usam calças!". Quase cinco séculos depois a desigualdade entre os homens ainda reverbera, afetando atuais formas de sociabilidade. Discutimos as "calças", numa conjuntura em que ela desliza para "peles": aquele nós-usamos-calças-e-eles-não toma a forma de eles-têm-pele-escura-e-nós-não. "O canto das três raças" entoado por Clara Nunes toma a forma de vividos cotidianos que atualizam essas tensões. Tema árduo, ardente e ardiloso recorrentemente abordado por intelectuais ¿ e sentido na pele de uma Nação; vez e outra atiça olhares ansiosos por desembaraçar os emaranhados e contraditórios fios condutores de constituições identitárias. Como pensar esses sentidos "colados" à pele? Um dos objetos de estudos frequentemente convocado com vistas à compreensão da formação social brasileira é a escravidão. Também incursionamos por estas trilhas de dizer visitadas (e também constituídas, conforme discutimos) por cientistas sociais. Mas realizamos alguns deslocamentos: (i) nossas análises não se embasam em uma correlação direta entre sujeito e instituições sociais, (ii) consideramos a constituição do corpus um primeiro gesto de análise: não tomamos, pois, um material previamente constituído para nele comprovar hipóteses e/ou responder às questões propostas e (iii) tratamos das nomeações escravo e liberto, interrogando-as, ao invés de nos atermos ao seu "sentido literal", ou seja, "pronto", já-dado. Investigamos processos de subjetivação por silenciamento, em que sujeitos são despidos de sua historicidade e "vestidos" em pele escura. Nossas análises nos levaram a desdobramentos desta questão: ao deixar de atender pelo nome escravo e passar a ser chamado de liberto, o "negro" ocupa um novo (ou outro) lugar? Entre uma posição e outra, que sentidos deslizam? O que é preciso esquecer (silenciar/ apagar) para que novos sentidos irrompam? São novos? Enveredamo-nos pelas tramas discursivas incrustadas em letras que tecem cadeias significantes nas "palavras de dicionário" (discurso lexicográfico) e nas "palavras de notícias" (discurso jornalístico). Nosso corpus é constituído por (i) artigos de jornais representativos que circularam no século XIX: Diario da Bahia / Jornal de Noticias (Bahia) e Correio Paulistano / A Província de São Paulo (São Paulo) e (ii) verbetes do Dicionario Contemporaneo da Lingua Portuguesa (Caldas Aulete, 1881). Sendo este objeto tradicionalmente abordado por cientistas sociais (inclusive afetando, conforme discutimos, não só imaginários que significam sujeitos, mas também a própria Nação), partimos deste quadro epistemológico e trazemos para a Análise de Discurso (em filiação a trabalhos como os de Orlandi, Pêcheux, Henry etc.) a discussão de questões que consideramos fundamentais e não podem ser contempladas no escopo teórico daquela área do conhecimento. Trilhando acontecimentos de "Alices" em "corpos ideais" para adentrar no "país das maravilhas", perscrutamos "frascos com poções transformadoras de corpos" (memórias) e "Alices" (sujeitos) na relação entre ditos (linguagem) e o que afeta sua constituição (condições de produção). Conduzimo-nos por questões como: quem produz (e com que direito) fra(s)cos, ou seja, memórias que significam sujeitos e sentidos? Como? Por que estes ¿ e não outros, também possíveis? De que modo gestos de interpretação (re)formulam "corpos ideais"/ país em que se inscrevem?

Palavras-chave: Identidade nacional - Brasil. Negros - Identidade racial. Escravidão - Brasil. Análise do discurso.

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