Resumo: A investigação aqui descrita tem sua origem na minha atuação como professor de português como segunda língua no contexto multilíngue de Timor-Leste, entre 2008 e 2009. Esse pequeno país do Sudeste Asiático foi uma colônia portuguesa até 1975, sofreu uma violenta ocupação da Indonésia até 1999, passou por um período de transição sob a administração de uma missão da ONU (Organização das Nações Unidas) e se tornou independente em 2002. A Constituição timorense define como línguas oficiais do país, o português e o tétum e define o indonésio e o inglês como línguas de trabalho, designando ainda as línguas dos diferentes grupos etnolinguísticos locais como línguas nacionais. O país tem contado com a cooperação de diversos países na construção das suas políticas públicas, o que inclui a implementação das políticas linguísticas e educacionais. A cooperação brasileira e a cooperação portuguesa têm tido um papel importante na formação de professores através de diversas iniciativas construídas em conjunto com as diferentes instituições de governo em Timor-Leste. Dentro desse contexto, esta tese tem como foco professores formados atuando em Díli e estudantes em formação de um desses projetos, o curso de Licenciatura em Língua Portuguesa, do Departamento de Língua Portuguesa (DLP) da Universidade Nacional Timor Lorosa¿e (UNTL). O referido curso conta com a cooperação do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua (CICL), de Portugal, através do Centro de Língua Portuguesa (CLP), de Díli. O objetivo principal desta pesquisa foi identificar as visões desses professores e estudantes em relação às suas trajetórias sociais, aos seus repertórios heteroglóssicos e às políticas linguísticas locais. A produção dos dados para a pesquisa empreendida foi realizada ao longo de seis meses em campo, no ano de 2012, momento em que atuei novamente como professor no país e pude registrar no meu diário de campo alguns aspectos da dinâmica sociolinguística local e produzir as oito entrevistas com professores formados e as oito entrevistas com estudantes em formação, com enfoque nas suas histórias de vida. As análises das narrativas apontaram para a forma como certos recursos linguísticos foram construídos nas suas trajetórias como recursos para mobilidade territorial e social; as suas perspectivas acerca do funcionamento atual dos repertórios heteroglóssicos locais que indiciam o funcionamento de hierarquias linguísticas e a sua vinculação a processos de distinção social; e ainda, a forma como para esses professores e estudantes, os debates sobre as políticas linguísticas que estão sendo implementadas no país se relacionam a processos de construção de hegemonia política no contexto timorense. Os resultados parciais me levam a defender a tese de que em um contexto multilíngue como o de Timor-Leste, as políticas linguísticas, como parte de regimes metadiscursivos de regulação das práticas sociais de interação, são também um dos eixos a partir do qual são estruturados os processos de construção identitária e de estratificação social constitutivos da atual ordem política do território e da nação, por isso, devendo ser analisadas no âmbito das disputas políticas por hegemonia nesse contexto.
Palavras-chave: Política linguística. Língua portuguesa - Estudo e ensino - Falantes estrangeiros. Aquisição da segunda linguagem. Multilinguismo. Timor Leste.