Resumo: Objetos e afetos propõe a criação de um livro-objeto composto por três cadernos que esboçam, entre escritas e materialidades, a possibilidade de uma pesquisa-desenho. Uma proposta de inventar com a obra Vinte e um veleiros (s/ data), do artista brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), modos de habitar os objetos e o mundo. Traçar também junto a presença de Bispo na Trigésima Bienal de São Paulo ¿ a iminência das poéticas (2012) as problemáticas que envolvem a crítica e a divulgação cultural das artes visuais. Arte e loucura: palavras que constituem uma figura-Bispo que contorna as tentativas da crítica, entre biografias e bibliografias, de decifrar sua personalidade, encontrar em seus objetos possíveis narrativas que os fixem no compromisso com a representação de um mundo interno e pessoal. Essa pesquisa nasce da inquietação diante desse modelo com o qual a crítica e a divulgação cultural lidam com os feitos das artes visuais. Papel, linha e palavra são os materiais com os quais essa pesquisa pretende transbordar as margens dos dizeres que amarram artista e obra, e desenhar passagens para habitantes outros, entre sentidos e sensações, que movimentem as condições que estabilizam a existência dos objetos. Uma proposta de esboçar nos cadernos desse livro-objeto possibilidades em que os Veleiros, como compostos de sensações, possam ficar de pé sozinhos, independentes de determinações que os fixem a alguma identidade, temporalidade ou territorialidade dada. Investigar os vãos, as passagens, os respiros nos objetos; as vidas que podem acontecer, no encontro das linhas inesperadas e desconhecidas que desenham as páginas dos cadernos. Experimentar tomar o desenho como procedimento de pesquisa, em que a palavra torna-se matéria de experimentação, e escrita/leitura mantêm-se como gestos que rascunham passagens pelas quais seja possível perceber/potencializar uma misteriosa imensidão que atravessa a materialidade dos objetos ¿ afetos, brancos, vazios, silêncios, (in)dizíveis... Uma tentativa de pesquisa-desenho que quer, com a composição desses cadernos, despir os objetos em uma conversa na qual suas materialidades possam dizer-nos de segredos indescritíveis por palavras, ou ainda gotejar fragmentos de textos por/entre aberturas, texturas, plasticidades... Secar significações na possibilidade de compor uma vida outra com a escrita e a materialidade das coisas. Uma vontade de vasculhar modos de habitar uma imensidão de possibilidades, entre afetos, objetos e palavras, que compõem este livro-objeto. Transbordar as margens da própria pesquisa, desenhar passagens com as escritas tecidas.

Palavras-chave: Rosário, Arthur Bispo do, 1909-1989 - Crítica e interpretação. Livro - Objeto. Desenho. Difusão cultural.