Resumo: Este trabalho tem como objetivo descrever acusticamente sons que comumente foram descritos como fricativos em estudos fonológicos anteriores a respeito do Guarani-Mbyá, e apresentar as características fonéticas dos sons africados dessa língua, com o intuito final de subsidiar uma proposta de interpretação do sistema fonológico para essa língua da família Tupi-Guarani, a partir da variedade falada na aldeia Tekoa Itax?, localizada em Paraty Mirim, em Paraty (RJ). As análises anteriores desenvolvidas para essa língua divergem quanto ao estatuto fonológico de uma “fricativa bilabial vozeada” [?], da aproximante labiovelar vozeada [w] e da “fricativa labiodental vozeada” [v], segmentos apresentados em uma relação de variação. A análise acústica apresentada neste trabalho concluiu pela ausência de sons fricativos e confirmou o estatuto fonológico da aproximante labiodental vozeada [?], que opera com a aproximante labiovelar [w] como forma variante. O estudo nos levou à conclusão de que a língua conta, em seu sistema fonológico, com uma obstruinte descontínua pós-alveolar surda, e sua contraparte sonora, que se realizam como africadas alveolares [t?s] e [d?z] e, com frequência, como palato-alveolares [t??] e [d??], quando precedendo vogais posteriores (algumas vezes também precedendo a vogal anterior média [e]). Os resultados dos experimentos acústicos são discutidos fonologicamente à luz do princípio das oposições distintivas proposto pela Escola de Praga, o que nos possibilitou elaborar uma proposta de sistema fonológico apresentando o lugar e o papel dos sons aproximantes e africados no Guarani-Mbyá.


Palavras-chave: Índios da América do Sul - Brasil. Fonética acústica. Africadas (Fonética). Língua mbyá - Fonologia. Lingua Guarani - Fonologia.