Resumo

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Idiossincrasias do processamento de pronomes plurais

Mahayana Cristina Godoy

Orientador(a): Edson Françozo

Doutorado em Linguística - 2014

Nro. chamada: T/UNICAMP - G548i


Resumo:
Tradicionalmente, o estudo do processamento das expressões pronominais sempre partiu do pressuposto de que o processador, ao ser confrontado com um pronome, inicia uma busca imediata por um antecedente. Esse ponto de vista guiou boa parte dos vários estudos sobre pronomes singulares (e.g., Arnold et al., 2000; Sturt, 2003) e, também, os poucos estudos feitos sobre o processamento de pronomes plurais (e.g., Oakhill et al., 1992). Nesse trabalho, apresentamos casos de pronomes plurais não-anafóricos que desafiam essa visão incremental, como em "Alice gostava de comer carne, e eles faziam uma picanha suculenta na churrascaria do Leblon". Nesse caso, só é possível alcançar a referência do pronome plural ao final da sentença, quando se chega à expressão "churrascaria do Leblon". Esses casos nos levam a questionar (i) se pronomes plurais, assim como os singulares, se ligam imediatamente a um antecedente provido pelo contexto; (ii) se o processamento de pronomes plurais depende de um antecedente explícito ou inferível no contexto para que possa ocorrer sem custos cognitivos adicionais. Em um primeiro experimento de leitura feito por meio de rastreamento ocular, testamos com que rapidez pronomes plurais e singulares constroem uma relação correferencial com um antecedente explícito no contexto anterior. Os resultados indicam que pronomes singulares estabelecem uma relação imediata de correferência, e a revogação essa relação implica custo cognitivo comparativamente a contextos em que a correferência é mantida. Pronomes plurais, por outro lado, parecem não se ligar de imediato com seu suposto antecedente, o que faz com que situações de revogação de correferência não resultem em um custo adicional de processamento. Em um segundo experimento, testamos quão necessários são esses antecedentes para que pronomes plurais e singulares sejam lidos sem custo adicional. Pronomes singulares que não tinham um antecedente explícito no contexto anterior levaram a um maior tempo de leitura do que pronomes singulares que mantinham relação de correferência com um antecedente. Por outro lado, pronomes plurais sem antecedente não foram cognitivamente mais custosos em comparação a pronomes plurais que contavam com um antecedente explícito no contexto. Levando em conta os processos de resolução pronominal, concluímos que nossos resultados não corroboram o pressuposto de que pronomes plurais e singulares sigam a mesma estratégia de resolução. Como pronomes plurais tendem a depender de informações apresentadas posteriormente no texto, sua resolução pode ser adiada sem acarretar custo processual. Além disso, como nossos dados sugerem que pronomes plurais podem permanecer sem resolução por um período de tempo, os resultados descritos parecem indicar que o processamento linguístico pode se pautar por representações superficiais do input linguístico em algumas situações específicas.

Palavras-chave: Referência (Linguística). Lingua portuguesa - Pronomes.

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