Resumo

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O futuro da terra : discursos inconvenientes

Ana Paula Freire

Orientador(a): Sírio Possenti

Doutorado em Linguística - 2013

Nro. chamada: T/UNICAMP - F883f


Resumo:
Esta pesquisa se propõe a analisar o discurso sobre meio ambiente na imprensa brasileira, com ênfase para o aquecimento global, tendo como principal referência a divulgação, em 2007, do Quarto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o AR-4. Pretende-se investigar, à luz da Análise do Discurso (AD) francesa, como circulam os discursos científico e político acerca do tema nos principais veículos impressos do país e em que medida um vai influenciar (n)a tessitura do dizer sobre o outro, numa teia argumentativa que envolve interesses científicos, econômicos e políticos diversos. Uma das questões mais importantes que identificamos na análise do noticiário foi o viés sensacionalista sobre as conclusões do IPCC, com formulações como “apocalipse”, “caos”, “catástrofe” e outras expressões correlatas. O que o AR-4 apontou como “inequívoco” sobre o aquecimento global, a mídia leu e deu a ler como “irreversível”. Outro aspecto relevante diz respeito às tentativas de desacreditar o IPCC, sobretudo no episódio que ficou conhecido como Climagate, e as “previsões erradas” para o derretimento das geleiras do Himalaia. Controvérsias reverberaram também na comunidade científica brasileira. Termos como “alerta” vs “ecoterrorismo” e suas paráfrases, ratificando ou refutando as análises do IPCC, circularam em artigos assinados por renomados cientistas, marcando a presença do político no discurso científico. É pertinente, nessa discussão, considerar o lugar da ciência nos respectivos enunciados, isto é, como estes se constituem a partir das propriedades de um discurso dito científico, portanto “legitimado”, o que pressupõe como estratégia a deslegitimação de outro. A noção de formação discursiva (FD) é fundamental para compreender os diferentes sentidos no funcionamento dos discursos analisados, uma vez que, observando as condições de produção e verificando o funcionamento da memória, pode-se remeter o dizer a determinada FD para tentar entender o(s) sentido(s) do que está dito. Na tarefa de problematizar os vestígios históricos de constituição dos sentidos na análise do corpus, faz-se necessária uma reflexão sobre ciência e divulgação da ciência, via jornalismo, e a noção de objetividade como estratégia para encobrir o subjetivismo e os demais interesses que constituem os processos de significação desses discursos. A ciência, como a notícia – e como notícia – também é produzida a partir de interesses econômicos, e é importante discutir quando interessa divulgar a ciência e como se dá essa divulgação na textualização jornalística. Nossa análise conclui que o fulcro da discussão sobre aquecimento global – e de qualquer discussão acerca de meio ambiente – é a questão econômica, balizada principalmente pelo confronto entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Ainda que a maioria dos países reconheça a necessidade de se estabelecer metas de redução nas emissões de GEE, enquanto
os principais emissores se recusarem a assinar acordos globais, qualquer tentativa de negociação será a priori um “fracasso”. Os conceitos de língua, linguagem, texto, sujeito, ideologia, discurso, marcas e propriedades do discurso, constituição-formulação-circulação serão fundamentais para subsidiar as considerações teóricas propostas neste trabalho. O corpus se constituirá de exemplares representativos da mídia impressa, com ênfase para os veículos de maior circulação e influência no Brasil: Folha de S. Paulo e O Globo, em maior escala, e O Estado de São Paulo e Veja.



Palavras-chave: Jornalismo. Jornalismo científico. Análise do discurso. Meio ambiente. Mudanças ambientais globais.

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