Resumo

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Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no português europeu clássico : sintaxe, discurso e gramática normativa

Cynthia Tomoe Yano

Orientador(a): Charlotte Marie Chambelland Galves

Mestrado em Linguística - 2013

Nro. chamada: T/UNICAMP - Y17e


Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo compreender melhor o funcionamento do sistema de pontuação do português europeu do período do século XVI ao século XIX, focalizando a análise do emprego da vírgula antes de oração completiva verbal e oração completiva nominal. A escolha desses contextos de uso da vírgula não foi fortuita e se deu por duas razões: primeiro, pela dificuldade dos gramáticos, até o início do século XVIII, em definir as diferenças entre as orações completivas e as relativas restritivas e explicativas e, portanto, o uso de vírgula nesses tipos de construções também, e segundo, pela variação no uso de vírgula que se observa em textos literários escritos e publicados na época.
Para a análise foi realizada a leitura de gramáticas e tratados de ortografia publicados do século XVI ao XIX e foi selecionado um corpus composto por quatorze textos de autores portugueses nascidos no mesmo período, do século XVI ao XIX, no qual foram realizadas buscas por todas as sentenças em que ocorrem os tipos de construções citados acima, precedida e não precedida por vírgula, com o auxílio da ferramenta de busca Corpus Search. Todos os dados, posteriormente, foram classificados segundo dois critérios: o primeiro de acordo com o ano e a presença ou não de vírgula antes da oração completiva, e o segundo de acordo com a presença ou não de um elemento interpolado entre o verbo e a oração completiva.
Após a análise dos resultados, observou-se que a maioria dos dados tinha como verbo regente um verbo dos tipos de discurso, de pensamento ou de opinião, típicos de discurso relatado. Isso levou à hipótese e à confirmação de que a vírgula possuía mais uma função de introduzir discurso relatado, além das descritas pelos gramáticos e ortografistas, que foi corroborada pelo fato de haver, nos mesmos textos, ocorrências com os mesmos verbos seguidos de dois pontos, que tem como função primeira introduzir citações e discursos indiretos na escrita. Além disso, notou-se também que, a partir do século XVIII, há uma queda progressiva na porcentagem de ocorrências com orações completivas precedidas por vírgula. Apesar do que as gramáticas da época mostram e alguns estudos, como o de Rocha (1997), afirmam, o modo de empregar a vírgula teria sofrido modificações desde a primeira metade do século XVIII, e não a partir do século XVII e nem mais tarde, a partir da segunda metade do século XVIII.
Outro resultado interessante a que se chegou com este estudo, ainda que não seja categórico, foi o de que a variação no uso da vírgula entre uma oração completiva e o verbo que a rege nos textos quinhentistas e seiscentistas, embora à primeira vista pareça aleatória, poderia ter como motivação a presença ou não de um elemento seguindo o verbo. A análise pareceu mostrar que, quando não há nenhum elemento interpolado a preferência é pela não colocação de vírgula antes da oração completiva e quando há um elemento, a colocação de vírgula é mais frequente. Já quanto aos textos setecentistas e oitocentistas, foram poucos os casos com vírgula encontrados e desses, a maioria apresenta uma configuração bastante diferenciada, ou com uma oração relativa, uma oração parentética ou um vocativo, que devem obrigatoriamente ser isolados por pontuação, ou são ambíguos, podendo a oração completiva ser interpretada como complemento do verbo que a precede imediatamente ou como complemento ou adjetivo do verbo ou nome da oração anterior.



Palavras-chave: Língua portuguesa - Pontuação. Virgula. Discurso relatado. Língua portuguesa - Português clássico. Lingua portuguesa - Normalização.

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