Resumo: O estudo das Cartas chilenas, obra atribuída a Tomas Antonio Gonzaga (1744- ca.1810), e proposto através da analise desta como obra inserida numa instituição retórica, reguladora das praticas de representação ate o século XVIII. Para isso, faz-se necessário uma investigação acerca do gênero da obra, que identificamos como uma epistola satírica. De fato, o próprio título dela revelaria o seu caráter de epistola, ao passo que o seu conteúdo demonstraria a sua natureza satírica. Porem, o levantamento da trajetória da recepção critica da obra - realizada por FURTADO em 1997 - evidencia que, de maneira geral, tendeu-se a classificá-la principalmente como documento historiográfico capaz de revelar os antecedentes da Inconfidência Mineira, do que como documento literário dotado de formas historicizadas. Desse modo, a tradição critica parece ter se concentrado em possíveis eventos históricos, sem, no entanto, levar em conta a historicidade do aspecto retórico-ético-poético da obra. O trabalho efetua, portanto, uma leitura retoricamente orientada das cartas e espera contribuir para uma nova abordagem da obra. São estudadas as técnicas da ecfrase e da etopeia, mostrando-se como são significativas as "caricaturas" presentes nas Cartas chilenas. Busca-se demonstrar que na obra coexistem as imitações icastica e fantástica, de modo que em algumas cartas a ênfase recai sobre os aspectos histórico-particulares e em outras sobre os poéticos/universais. Estuda-se, ainda, a presença da tópica do soldado fanfarrão, o miles gloriosus da comedia romana ou o alazon da comedia grega. Aproxima-se, por fim, as figuras de Fanfarrão Minesio e de Dom Quixote.
Palavras-chave: Sátira. Retórica. Poética. Ética. Cartas.