Resumo

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Borges, um estranho : litorais entre a literatura e a psicanálise

Patrícia de Oliveira Leme

Orientador(a): Nina Virgínia de Araújo Leite

Mestrado em Linguística - 2013

Nro. chamada: T/UNICAMP - L542b


Resumo:
O presente trabalho consiste em uma leitura do estilo de Jorge Luis Borges a partir de um inquietante efeito narrativo, passível de ser abordado na área psicanalítica através do enigmático conceito de estranho. Para a elaboração dessa hipótese, inicialmente chamou-se à baila três contos de Borges: "La escritura del dios", "La muerte y la brújula" e "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius". Mesmo estendendo-se a outras incursões na vasta obra borgeana, as três narrativas constituem a moldura necessária para a compreensão de certos mecanismos do estilo borgeano, que nesse trabalho acabam por figurar como elemento causa de estranhamento. No primeiro capítulo tomaram-se os textos como cenas de leitura, em um procedimento que buscou explicitar esse inquietante efeito da escrita de Borges, bem como salientar suas reverberações no campo da crítica literária. O impacto do estilo borgeano na sua crítica pôde elucidar alguns pontos cruciais ao enodamento com a teoria psicanalítica nos capítulos posteriores, recuperando também algumas chaves de leitura importantes no delineamento do efeito em questão. No segundo capítulo promoveu-se uma leitura d' "O estranho", de Sigmund Freud, a partir desse funcionamento da obra borgeana: seus pontos de contato puderam revelar que o conceito erigido por Freud supera os limites de sua própria elaboração, fazendo-se presente mais como um lugar de enunciação do estranho do que como um conceito fechado em suas próprias bases. Esse movimento convocou, no terceiro capítulo, a retomada do conceito de estranho por Jacques Lacan em seu O seminário, livro 10: a angústia. Nele, Lacan promove uma elaboração do estatuto do objeto a, noção paradigmática no campo psicanalítico, a partir do estranho como um efeito de seu aparecimento na estrutura subjetiva. Para tecer o enodamento com o literário, as teorizações lacanianas em seu décimo oitavo seminário foram fundamentais, por trazerem à tona a noção de discurso e de escrita, sobretudo em sua "Lição sobre Lituraterra". O estabelecimento da letra como litoral entre saber e gozo, bem como o seu funcionamento a partir da rasura, permitiram a sustentação da hipótese de leitura que se soergueu inicialmente a partir de um efeito: há em Borges algo que causa estranhamento, e ele se anuncia para além do registro do relato, constituindo uma operação formal que produz esse efeito de escrita.

Palavras-chave: Borges, Jorge Luis - 1899-1986 - Crítica e interpretação. Freud, Sigmund, 1856-1939. O estranho. Lacan, Jacques, 1901-1981. Angústia. Psicanálise e literatura.

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