Resumo

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Literatura e ciência em Italo Calvino

Vanina Carrara Sigrist

Orientador(a): Maria Betânia Amoroso

Doutorado em Teoria e História Literária - 2012

Nro. chamada: T/UNICAMP - Si26L


Resumo:
Italo Calvino, questionando-se sobre novas necessidades impostas pelo enfraquecimento de diversos paradigmas conceituais e metodológicos das áreas exatas e humanas do conhecimento, dedicou-se intensamente como editor, crítico e ficcionista à leitura de incontáveis textos científicos e literários, com a mesma postura de curiosidade e de disciplina crítica, principalmente a partir dos anos 1960. Assim, ele desfez a visão cristalizada de que a literatura seria território exclusivo da expressão da subjetividade do autor em contato com o mundo, e de que a ciência se basearia unicamente em procedimentos de precisão e rigor, transmitidos por uma linguagem também exata. Aproximou por diversas vezes literatura e ciência, pensando-as como um híbrido de padrões e de exceções, de regras e de descumprimento das regras. Seu importante ensaio “Cibernética e fantasmas”, de 1967, funcionou na pesquisa como núcleo argumentativo potencial para todo o percurso traçado pelas dezenas de textos seus, uma
vez que nele são apresentados todos os elementos mínimos da discussão: o caráter combinatório-científico da literatura, o autor literário como máquina da escrita, a extrapolação da linguagem pela literatura como seu valor mítico e o leitor como fantasma responsável pela efetivação desse mito. Projetando esses elementos sobre uma seleção ensaística do período de 1965 a 1985, constata-se que as principais ciências que teriam contribuído para sua obra foram a cibernética, a antropologia, a etnologia, a matemática e a astronomia, concebidas em extrema mobilidade, sem rígidas fronteiras entre si. O escritor, recusando a estética naturalista-realista e a perspectiva antropocêntrica que a sustentaria, privilegiou teorias estruturalistas e semiológicas, a idéia do humano como uma dentre várias formas de vida, os modelos narrativos das culturas primitivas indígenas e ocidentais, a matematização dos procedimentos literários e a progressiva indistinção entre mundo escrito e mundo não-escrito.
Como crítico, entretanto, Calvino tendeu a explorar as afinidades entre literatura e ciência mais do que as especificidades de cada uma, incorrendo em uma postura interpretativa essencialmente estruturalista, abandonando, em certa medida, a noção de mito apresentada em “Cibernética e fantasmas” como momento determinante da linguagem literária. Foi com o objetivo de tentar reencontrar as especificidades literárias em seu discurso que lemos As Cosmicômicas (1965), um projeto de narrar o cosmo que alia ciência e literatura, máquina e humor, mostrando que tais elementos se misturam indefinidamente.


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