Resumo: Ao longo do último século, o modus operandi da indústria cultural foi responsável por um movimento de padronização dos artefatos culturais, constituindo um eixo tensional entre repetição e inovação que abarca em todas as artes, mas especialmente no cinema, tendo este uma maior necessidade de retorno dos investimentos feitos para sua realização. Dessa forma, considerando o cinema feito nos Estados Unidos como o principal representante do entretenimento fílmico, é natural que esta homogeneização lhe seja mais intensa, um aspecto convenientemente negligenciado pelas críticas especializadas, posto que estas costumam enfatizar, acertadamente, aqueles filmes de maior complexidade, terminando por iludir os leitores acerca da real porcentagem de filmes com tal qualidade. Assim, o objetivo desta tese é observar a composição de uma dessas obras costumeiramente não contempladas pela crítica, a trilogia de horror Pânico (1996; 1998; 2000), dirgida por Wes Craven, partindo da leitura cerrada de seus principais componentes estruturais - enredo, personagens, espaço e foco narrativo - e comparando-a a outros de seu subgênero, para verificar a existência de uma tensão dialética de aproximação ou distanciamento da estandardização das formas diegéticas e como esses movimentos estão relacionados com as estratégias de comercialização dos produtos. Para isso, este trabalho lança mão de um corpo de teorias de diversas áreas, desde a literatura e o cinema até o grupo de pensadores abarcado pelo epíteto Teoria, mas sempre permeado pelo conceito de indústria cultural de Adorno e Horkheimer (1985) e pelas elaborações posteriores de Adorno (2001) sobre do tema. No corpus, por um lado, a tensão entre a repetição das formas e seu rearranjo ocorre em todos os componentes selecionados, de modo que a trilogia Pânico continua a pertencer ao subgênero slasher em sua composição, ao menos na superfície, apesar de conter uma grande parcela de hibridização de outros gêneros, notadamente a estruturação das duas personagens principais, heroína e monstro, bem como de parte de sua découpage; por outro lado, há uma parcela de inovações atribuídas à trilogia, em especial a presença de uma variada veia metaficcional, uma raridade em todo o gênero horror, mas também a diminuição das cenas violentamente explícitas. Contudo, pode-se confirmar, através da interpretação dos resultados, que as modificações permitidas nunca ameaçam a quebra da quarta parede, ou mesmo a expectativa da plateia em relação aos filmes, de modo que se devem considerar praticamente todas as alterações como controladas para emular uma novidade falaciosa
Palavras-chave: Craven, Wes - Pânico - Crítica e interpretação. Indústria cultural. Repetição no cinema. Filmes de horror.