Resumo: No campo da Afasiologia, ciência que estuda os déficits de linguagem decorrentes de lesão cerebral, encontramos uma série de "sintomas" linguísticos associados aos quadros de afasia, dentre os quais figura a anomia. A anomia é definida como dificuldade ou incapacidade de encontrar palavras durante a enunciação (MORATO, 2002, p.10). Este déficit tem sido objeto de estudo da Afasiologia, ciência esta que encontra subsídios teóricos no campo linguístico, isto é, a classificação e compreensão dos fenômenos afásicos são diretamente influenciadas pelas teorizações linguísticas, tal como vemos, por exemplo, em Jakobson [1954] (1981), no célebre artigo intitulado Dois aspectos da Linguagem e dois tipos de Afasia. Na literatura existente, o termo anomia integra as várias formas de classificação dos fenômenos afásicos e psíquicos. Contudo, lembramos que mesmo os indivíduos cujas faculdades linguísticas estariam preservadas podem, eventualmente, manifestar certa dificuldade de encontrar palavras; ou seja, este déficit pode integrar outras condições patológico-cerebrais. Por outro lado, o mesmo termo foi utilizado por Durkheim [1897] (1996) para descrever um estado social caótico, desordenado, no qual se afrouxa a coerção moral sobre os indivíduos, levando-os ao desregramento e à delinquência. No entanto, quando o sociólogo francês faz uso do termo em questão, ele tem em vista o radical grego "nomos" (lei moral, costume), no qual a "anomia" significa "ausência de leis Temos, assim, um único termo com dupla identidade semiológica: a primeira tem a forma de uma "patologia social" descrita por Durkheim nas obras Da Divisão do Trabalho Social (1893) e O Suicídio (1897); a segunda aponta um déficit linguístico e é objeto da Afasiologia. Neste trabalho pretendemos investigar a realidade semiológica polissêmica da anomia e suas implicações gerais para o entendimento de relações entre os processos de normatização social e os processos de nomeação/referenciação.
Palavras-chave: Anomia. Afasia. Sociocognitivismo.