Resumo

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A valência do predicador Chamar na diacronia do português

Glicélia de Menezes da Silva

Orientador(a): Maria Clara Paixão

Mestrado em Linguística - 2010

Nro. chamada: T/UNICAMP - M524v


Resumo:
Nos estágios atuais da língua, as gramáticas brasileiras e portuguesas descrevem o CHAMAR como o único verbo do Português a ter um Predicativo do Objeto Indireto. O problema inicial desta pesquisa surgiu a partir dessa singularidade atribuída ao verbo CHAMAR quando predicador de construções denominativas, e se constitui em compreender quais foram os fatores que levaram o CHAMAR a ter, ao longo do tempo, esse comportamento diferenciado de todos os outros verbos da língua. Assim, o presente trabalho tem por objetivo descrever gramaticalmente o predicador CHAMAR quando este significa “qualificar”; “atribuir um nome, denominar”; “autodenominar-se” e “possuir um nome”, tendo como base as narrativas portuguesas escritas nos séculos 14, 15 e 16. As construções com CHAMAR aqui descritas foram denominadas de construções de semântica denominativa e apresentam as seguintes estruturas básicas: [X V (a) Y (de) Z] em construções transitivas-ativas e [Y V-se Z]; [Y V Z] e [V Z] em construções não-transitivas (estativas/passivas), onde X= “Agente”(aquele que “executa a ação” expressa pelo verbo); Y= “Designando”, (aquele que recebe a denominação dada); e Z= “Designação” (a denominação propriamente dita). A partir dos questionamentos iniciais levantados, partiu-se para um estudo sobre a valência do CHAMAR quando principal predicador de construções denominativas procurando identificar os padrões de ocorrência dessas construções nos textos. Nos séculos 14 e 15 o CHAMAR convivia com outros predicadores denominativos e estes foram substituídos na diacronia, transformando o CHAMAR no principal predicador de construções denominativas. O CHAMAR denominativo pode ser “qualificativo”, i.e., quando atribui uma qualidade; ou “denominativo” propriamente dito, ou seja, quando atribui um nome. As estruturas com CHAMAR “qualificativo” apresentam a Designação (Z) como um adjetivo predicativo e, portanto selecionam como argumento uma Small Clause (“e porém lhe chama a estória filho de perdição” - CGE). Já as estruturas com CHAMAR “denominativo” apresentam a Designação (Z) como um nome próprio (“e por isso lhe chamaram Dom Sancho, o Desejado” – CGE) e, portanto não selecionam uma Small Clause como argumento. Neste tipo de construções o CHAMAR se caracteriza como um verbo de atribuição, tal como DAR, OFERECER, apresentando valência três [Agente] [V] [Designando] [Designação]. As construções transitivo-ativas apresentam como principal padrão de expressão argumental aquele em que o argumento que mais aparece nulo é o Agente (X), e o Designando Y (Objeto) ocupa a posição à esquerda de proeminência discursiva (Y V __ Z), acompanhando dessa forma as principais características da frase na Gramática do Português Médio, defendidas por Paixão de Sousa (2008). A partir desse padrão dos verbos no PM propõe-se que as construções estativas do tipo [Y V Z] (“Ela chama Maria”) atestadas atualmente no PB são derivadas das construções ativas do tipo [Y V __ Z] do PM, com o sujeito Agente nulo e o “constituinte discursivamente importante” ocupando a posição imediata a esquerda do verbo, alterando assim a valência de CHAMAR de três para dois.

Palavras-chave: Mudança linguistica, Língua portuguesa - Portugues arcaico - Até 1400, Língua portugesa - Português médio - Até 1500, Língua portuguesa - Valência verbal

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