Resumo: Este trabalho é uma análise do romance Onde andará Dulce Veiga? Um romance B (1990), de Caio Fernando Abreu. Buscou-se compreender como a construção da narrativa é atravessada pelo que se identifica, através deste estudo, como o mal-estar dos anos 1980 e da AIDS. No Brasil, nessa década se dá a passagem da Ditadura Militar para o regime democrático, período frequentemente lembrado pela instabilidade no processo de transição política, econômica e social. Ao pessimismo atribuído a essa época, podemos acrescentar o forte impacto na sociedade brasileira causado pela divulgação dos primeiros casos de AIDS (sigla em inglês para a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - SIDA). Por se tratar de uma doença incurável, letal e associada, inicialmente, à sexualidade, a AIDS será significada sob o estigma da condenação, do medo e do preconceito. Considerando o contexto de descoberta da doença, esta análise da obra de Caio, cuja trama se desenvolve nos anos 1980, se pauta no questionamento de como se dá a representação do sujeito e da AIDS a partir da perspectiva do narrador-personagem. Ao se lançar na busca da cantora Dulce Veiga, que fez sucesso na era do rádio, o narrador se vê envolvido num enredo no qual a doença se significa na forma de um não-dito. A AIDS se apresenta, de forma velada, em meio aos sentidos de destruição perceptíveis pelos elementos espaço-temporais presentes na narrativa. O efeito de decadência que a narrativa produz é também analisado a partir do estudo comparativo entre a estrutura de um romance B proposta por Abreu, numa referência ao cinema B, e o romance policial noir norte-americano dos anos 1930.
Palavras-chave: Literatura brasileira, Anos 1980, Sujeito, AIDS (Doença)