Resumo

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Uma poética do humano : algumas notas sobre a açorianidade de Vitorino Nemésio

Simone Nacaguma

Orientador(a): Fabio Akcelrud Durão

Doutorado em Teoria e História Literária - 2010

Nro. chamada: T/UNICAMP - N113p


Resumo:
Em comemoração aos quinhentos anos dos Açores, em 1932, Vitorino Nemésio (1901-1978), poeta e ficcionista açoriano, cunhou o neologismo açorianidade a fim de expressar a singularidade da existência do homem açoriano profundamente marcado pela condição de ilhéu. O objetivo desta tese consiste em identificar e analisar alguns elementos medulares de sua açorianidade a partir de um percurso sobre a sua narrativa de ficção. Nosso percurso tem início em seu primeiro romance (Varanda de Pilatos, 1926 ), inclui as três novelas de A Casa Fechada (1937) e finaliza-se em seu último romance, Mau Tempo no Canal (1944). A análise de Varanda de Pilatos e das novelas de A Casa Fechada revelou um caráter ambíguo do feminino, sob diversos aspectos, concebido essencialmente por um sincretismo entre uma ancestralidade mítica pagã e outra cristã. Esse sincretismo se expressou, inicialmente, por meio da evocação dos mitos de Vesta/Vênus e da Virgem Maria. Verificamos, todavia, que esses mitos se desdobram em outros mitos femininos, os quais, por sua vez, guardam todos, por um lado, a matriz do duplo feminino Lilith/Eva; e, por outro, o feminino como expressão de forças crônicas e telúricas que remontam à mítica clássica. Esse sincretismo, contudo, não se apresenta de forma "estática"; sob uma perspectiva cronológica, essas narrativas espelham uma progressiva diluição desses mitos, o que culmina em Mau Tempo no Canal. Grosso modo, poderíamos dizer que essas narrativas, em certa medida, narram o processo de ocultamento e de sincretismo desses mitos femininos ao mesmo tempo em que narram o seu aburguesamento, visto que, segundo a nossa leitura, é a partir do drama masculino originado no contexto do casamento por interesse que o feminino nemesiano se configura, embora não se limite a esse aspecto. Na verdade, o conflito nemesiano recorrente consiste no casamento por interesse como obstáculo à reunião dos amantes. Assim, poderíamos dizer que o feminino nemesiano é erigido a partir do contexto social insular açoriano, e de sua singular religiosidade, ao mesmo tempo em que se funda em uma concepção mítica da própria Terra, isto é, o feminino nemesiano se caracterizaria, segundo o conceito de liminaridade de Turner, por sua condição liminar entre o local (particular) e o universal, entre o sagrado e o profano, entre o Bem e o Mal, entre a bruxa e a santa, entre o diabo e o divino, entre a sombra do enigma e a luz do conhecimento. Refletir, portanto, sobre a açorianidade de Vitorino Nemésio implica refletir sobre a relação entre o masculino e o feminino insulares, o que acreditamos constituir traço medular de sua açorianidade, isto é, de sua poética.

Palavras-chave: Açorianidade; Insularidade; Feminino; Mito

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