Resumo

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A escrita das cartas de Freud a Fliess e a invenção da psicanalise

Vera Lucia Colucci

Orientador(a): Nina Virgínia de Araújo Leite

Doutorado em Linguística - 2010

Nro. chamada: T/UNICAMP - C723e


Resumo:
Freud (1856-1939), inventor da psicanálise, foi um grande escritor de cartas. Calcula-se que ao longo de sua vida escreveu mais de 20.000 cartas. Todavia, as cartas a Fliess (Masson 1986), escritas entre 1887 e 1900 têm um lugar diferenciado das demais. No presente trabalho desenvolvemos a idéia de que a escrita das cartas a Fliess (1858-1928) são parte da invenção da psicanálise. O aforismo de Lacan "o inconsciente é estruturado como uma linguagem" impõe a consideração da divisão do sujeito Freud articulada ao seu desejo na teorização da psicanálise. A verdade buscada incessantemente por Freud levou-o à invenção psicanálise. Nesse percurso de muito trabalho e solidão intrínsecos ao objeto que não se deixa apreender, Fliess ocupou o lugar de outro semelhante, que acolhe e estimula, e também daquele que representa o saber científico. Como Freud mesmo chegou a dizer comparando-se com o trabalho do físico Einstein, que tivera Newton e tantos outros como mestres, seu trabalho era sem precedentes, Freud. Na solidão que essa condição lhe impunha, pela injunção da invenção de um saber inédito, ele tinha que supor o saber científico em algum lugar. Foi Fliess, seu amigo muito amado, o parceiro de sua incursão por territórios não nomeados e não descritos anteriormente. Joseph Breuer (1842-1925), que também fora muito próximo de Freud, predecessor desavisado nos primeiros espantos diante do enigma da histérica - Breuer tratou Bertha Pappenheim, conhecido caso Anna O, de 1880 a 1882 -, não suportou sustentar a etiologia sexual da neurose e afastou-se científica e pessoalmente de Freud. Charcot, a cujas demonstrações clínicas no Hospital La Salpetrière Freud assistira entre 1885-1886, franqueara o "ça n'empêche pas d'exister", que deslocava a palavra de autoridade superior da teoria para o real, mas também não demonstrou interesse especial em se aprofundar na psicologia das neuroses. Foi Wilhelm Fliess quem, na sua certeza fascinante acerca das causas e processos vitais da natureza, pôde sustentar para Freud o lugar da verdade científica para que Freud, dividido, pudesse articular a verdade do sujeito. A importância desta abordagem da escrita das cartas de Freud a Fliess, frisando a condição da escrita, está no que se pode colher de sua potência de transmissão. Concordando com Erik Porge (1998), as cartas a Fliess não devem ser vistas como objeto de curiosidade histórica ou documentos de uma subjetividade. A escrita das cartas implicou Freud de um modo radical, pois era com a escrita, articulada à teorização do enigma das neuroses, que Freud assumia seu dizer, e isso se fez graças ao moedor de significante, cujos dentes são as letras, como diz Pommier (2004). A escrita das cartas a Fliess tem a potência da transmissão do cerne da estrutura da invenção do fazer teórico da psicanálise de Freud: a letra de Freud. A amizade de grande intimidade entre esses homens, cujos caminhos só mais tarde se mostraram opostos, produziu um laço que é o discurso da psicanálise. É esse o reconhecimento que nosso trabalho procura expressar

Palavras-chave: Psicanalise e escrita; Transmissão (Psicanalise); Escrita das cartas (Psicanalise); Psicanalise freudiana - Invenção

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