Resumo

Versão para impressão
Significados sociais da variação estilistica em esquetes de radio

Cassia Michela Alves Nogueira

Orientador(a): Anna Christina Bentes da Silva

Mestrado em Linguística - 2010

Nro. chamada: T/UNICAMP - N689s


Resumo:
Nesta pesquisa buscamos compreender o trabalho de estilização paródica, nos termos de Bakhtin ([1975]1988), empreendido pelo grupo humorístico paulista “Os dedes”, no programa de rádio “Os manos”. O corpus desse trabalho é constituído de 16 esquetes do programa, no qual são tematizadas as situações vividas por personagens, caracterizados como manos paulistas, moradores de uma favela, descrita como a “Boca do Sinatra”. Para a realização do trabalho, propomos uma articulação teórica entre “a poética sociológica bakhtiniana” e a “teoria da prática” desenvolvida pelo sociólogo Pierre Bourdieu e assumimos uma perspectiva na qual a língua é concebida como prática social. Compreende-se, portanto, que os falantes fazem uso de um conjunto de possibilidades estratégicas, as quais lhes permitem relacionarem-se nos vários campos sociais, de modo a tomarem determinadas posições as quais possibilitam a construção de uma trajetória nesses campos, norteada pela busca de diversos valores. Pautado em tais pressupostos, este trabalho tem como objetivo mais geral descrever e analisar a significação social da variação estilística no interior dos esquetes de radio anteriormente mencionados. Para a concretização desse objetivo, dispusemo-nos a: (i) descrever e analisar os traços linguísticos mais relevantes selecionados pelos humoristas para a construção da linguagem dos personagens manos nos esquetes; (ii) compreender que tipo de articulação se dá entre traços linguísticos específicos e determinados processos textuais e discursivos, de modo a revelar a direção da vontade estilizante dos humoristas, quando estes dão sua “versão” do que seja o “espírito da linguagem do mano”. O trabalho foi organizado da seguinte maneira: no capítulo 1 propomos uma retomada sobre como a questão do estilo foi compreendida por Bakhtin ([1929]1997), ([1975]1988) e sobre como tem sido vista no campo da sociolinguística; buscamos ainda retomar as principais práticas analíticas e metodológicas empregadas nos estudos sociolinguísticos sobre o estilo. A seguir, no capítulo 2, propomos uma apresentação geral de nossos dados e da metodologia empregada, assim como os principais dispositivos teórico-analíticos que mobilizaremos em nossas análises. Em seguida, no capítulo 3, apresentamos descrições de quatro diferentes contextos institucionais no interior dos quais são “encenados” trechos da vida social dos personagens manos: o espaço familiar, o campo das amizades, o espaço escolar e o campo do trabalho. No capítulo 4, propomos a análise de recursos de ordem lexical, morfo-sintática e morfo-fonológica manipulados pelos humoristas no trabalho de estilização paródica. Apresentamos, também, os principais recursos empregados pelos humoristas quanto à constituição textual dos esquetes. No capítulo 5, apresentamos nossas considerações finais, à luz da teoria da distinção social proposta por Bourdieu ([1979]2007), sobre o percurso teórico-analítico empreendido no trabalho. De modo amplo, esta pesquisa nos revela que a hierarquização entre vozes presente no trabalho de estilização paródica é na verdade motivada por hierarquizações sociais mais amplas que discursivamente emergem, são ressignificadas ou reforçadas, e em seguida são novamente incorporadas aos meios sociais. Assim, verifica-se que o trabalho de estilização paródica analisado destitui a voz estilizada de qualquer capital simbólico de que esta possa se valer como recurso de poder na arena de disputa político-ideológica que se configura nos esquetes.



Palavras-chave: Lingua portuguesa-Estilo; Variação estilistica; Diferenciação (Sociologia); Valores sociais

. Rua Sérgio Buarque de Holanda, no 571
Campinas - SP - Brasil
CEP 13083-859

...

IEL - Based on Education theme - Drupal Theme
Original Design by WeebPal.