Resumo

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UMA OUVINTE EM CURSO DE LIBRAS

MARLENE CATARINA DE FREITAS

Orientador(a): Marilda do Couto Cavalcanti

Mestrado em Linguística Aplicada - 2009

Nro. chamada: T/UNICAMP - F884O


Resumo:
O presente trabalho, desenvolvido na área de Lingüística Aplicada, foi norteado pela pergunta de pesquisa: Como se configura o trânsito ouvinte-surdo, com foco na auto-observação desta pesquisadora ouvinte, no contexto de um curso de LIBRAS ministrado por um professor surdo? E, complementarmente, em um centro de apoio a alunos surdos onde a pesquisadora é estagiária? Dentro desse contexto, visto como sociolinguisticamente complexo, levanto as dificuldades/facilidades encontradas nesse trânsito, incluindo meu processo de entrada em contato/conflito com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Por se tratar de uma pesquisa de cunho etnográfico (Erickson, 1984), o trabalho de campo foi realizado através de observação participante, no caso, auto-observação, registrada através de anotações de campo, depois elaboradas em forma de diários desta pesquisadora. Os registros (Erickson, 1986) gerados (Mason, 1997) constituem o corpus desta pesquisa. Diante de algumas questões que se mostraram relevantes para responder a pergunta de pesquisa, tive como base autores de diversas áreas, como os Estudos Culturais (Skliar; 1998; Hall, 1997), Sociologia (Elias e Scotson, 2000; Cuche, 2002), Antropologia (Thomaz, 1995; Certeau,1996), Lingüística Aplicada (Maher, 2008), Educação (Canen e Oliveira, 2002), dentre outros. A contribuição desses autores para a análise de dados se faz através de conceitos usados em suas teorizações tais como cultura, multiculturalismo, diferença, etnocentrismo, representações, relações de poder, identidades e identificação. À luz desses conceitos, utilizados em diferentes áreas, sob a ótica de uma leitura em uma vertente da área de Lingüística Aplicada que se abre para interfaces transdisciplinares (Ver Moita Lopes, 2006, Cavalcanti, 2006 entre outros), a análise dos dados indicou que esse trânsito ouvinte-surdo se configurou gradativamente. À medida que fui me inserindo e me envolvendo no contexto surdo-ouvinte do curso de LIBRAS, houve algumas variações em minhas ações e representações e passei a perceber tanto o meu, quanto o etnocentrismo de meus colegas do curso. Faz-se necessário destacar que essas representações passaram a ser mais flexíveis (porém, muitas vezes, também cambiantes) não somente pelo fato de eu ter sido ouvinte-aprendiz de um curso de LIBRAS, ministrado por professor surdo (falante da Língua de Sinais e oralizado), mas também pelo fato de que, ao longo da pesquisa que gerou este trabalho, passei a fazer parte de um cenário mais amplo tanto em relação ao local do campo, como em relação às posições que passei a assumir. Essa trajetória pode assim ser resumida: (a) pelo encantamento inicial com a LIBRAS, com as pessoas que tem familiaridade com a língua, em especial, os surdos que sinalizam, e com o que via como um mundo totalmente diferente daquele em que vivo (esse encantamento é comum na aprendizagem de uma LE); (b) pelas exigências decorrentes de familiarização compulsória com a LIBRAS, que podem ter agilizado a desconstrução da imagem idealizada do surdo e que me fizeram perceber tanto o meu etnocentrismo quanto de meus colegas; (c) pelas exigências decorrentes da prática necessária à “sobrevivência” do curso no momento em que passei a fazer o papel de intermediária administrativa do professor surdo, o que me auxiliou na desinibição e no maior uso da LIBRAS - visto que tais exigências fizeram com que olhasse para o professor, para o curso e para os ouvintes a minha volta, no curso de LIBRAS, de outro modo; e; (d) por meu relacionamento pré-profissional com outros surdos e ouvintes, no estágio que fiz em um centro de apoio, onde tive a oportunidade de manter contato com alunos e professores surdos, além do professor surdo do curso de LIBRAS que freqüentei. Através dessa trajetória que me serve de experiência para o mundo profissional e oportuniza relacionamentos com surdos e ouvintes que trabalham na área de escolarização e surdez, neste estudo, levanto algumas implicações na tentativa de apontar a importância e a necessidade de investir na formação de professores sensíveis e comprometidos com a educação das pessoas surdas, indo além da ênfase na aprendizagem de LIBRAS e investindo na desmistificação e quebra de preconceitos que o contato com o Outro, diferente, venha gerar. Entretanto, como essa quebra de preconceitos não pode ser vista como um acontecimento único, decisivo e permanente, há necessidade dessas ações serem tratadas como pontos para reflexão continuada na formação do profissional ouvinte que atua com surdos.




Palavras-chave: Lingua Brasileira de Sinais - Ensino e aprendizagem - Ouvintes; Surdez; Lingua Brasileira de Sinais; Etnocentrismo; Relações de poder.

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