Resumo

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EVOLUCIONISMO E CRIACIONISMO: ASPECTOS DE UMA POLEMICA

NILSON CANDIDO FERREIRA

Orientador(a): Sírio Possenti

Doutorado em Linguística - 2008

Nro. chamada: T/UNICAMP - F413E


Resumo:
Esta tese analisa a relação existente entre o discurso de divulgação científica neodarwinista e o discurso criacionista conservador. O neodarwinismo, neste estudo, representa o pensamento atual das diversas correntes da Biologia que seguem o modelo estruturado por Charles Darwin, a partir de sua obra A Origem das Espécies. O criacionismo conservador, também conhecido por fundamentalista, interpreta o texto do Gênesis sobre a criação do mundo de forma literal. Este trabalho, que analisa, principalmente, matérias da revista "Veja" que circularam no período de 1993 a 2002, tem como discurso de referência o neodarwinismo e é fundamentado na teoria da Análise do Discurso francesa, especialmente nos conceitos de interdiscurso, semântica de base, interincompreensão, polêmica e simulacros discursivos propostos por Maingueneau. Verifica-se que a base semântica do discurso neodarwinista é fundamentada nas seguintes unidades lexicais: acaso, natureza, acidente, primata, evolução e milhões-de-anos/eras. A semântica de base do criacionismo conservador é construída a partir das seguintes unidades lexicais: projeto, Criador/Deus, propósito, Adão, criação e dias-da-criação. O foco da polêmica entre esses discursos está centralizado no item lexical "acaso" e seu oposto "projeto". Isso porque admitir que há "projeto" acarreta em admitir-se que há projetista e, se há projetista e projeto, há também propósito, pois uma coisa pressupõe a outra. Assim, ancorado no papel atribuído ao "acaso", o evolucionismo constrói o seu discurso e, simultaneamente, nega a legitimidade do discurso antagonista, que é retratado sempre através do simulacro discursivo construído pelo processo da interincompreensão. O discurso neodarwinista procura construir para si um ethos científico e para isso reivindica os sentidos construídos pelos semas: fato, prova, verdade, certeza, racional. Os cientistas de sua formação discursiva são descritos como renomados, conceituados, sérios, sinceros, defensores da ciência e da verdade, etc. Em contrapartida, o discurso de referência constrói o simulacro discursivo do seu Outro através de itens lexicais como: mito, lenda, superstição, palpite, explicação sem sentido, histórias apócrifas, religião ruim, ciência ruim. Quanto aos que pertencem ao posicionamento discursivo antagônico, são: religiosos apaixonados, insinceros, supersticiosos, perseguidores da ciência, promotores de "guerras acirradas" em cujo meio encontram-se cientistas que na verdade são teístas inconfessos. Constata-se que, além do ethos científico, valorizado e assimilado pelos co-enunciadores aliados, o neodarwinismo constrói para si também, mesmo sem intenção, um ethos polêmico, que é o assimilado pelos antagonistas como um ethos arrogante. Assim, constata-se uma instabilidade na construção do ethos neodarwinista, que ora é mais sereno, mais científico, e ora mais combativo, mais polêmico. Esta tese incorpora o conceito de pathos à perspectiva discursiva e analisa os páthe que o discurso neodarwinista suscita nos co-enunciadores aliados e nos antagonistas. Faz-se, também, uma consideração das possíveis conseqüências dos páthe suscitados. Conclui-se que a relação de interincompreensão e polêmica entre os discursos protagonistas, fortemente marcada pela ideologia, faz com que cada um desses discursos veja o seu Outro somente através do simulacro que dele constrói.




Palavras-chave: Análise do discurso; Evolucionismo; Ethos; Pathos (Retórica); Polêmica.

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