Resumo: Este trabalho partiu de algumas indagações surgidas da clínica com crianças autistas; indagações que remetiam à própria questão da constituição do sujeito na linguagem e que não se esclareciam somente no entendimento e na definição da patologia. A negação apresentou-se como uma possibilidade de interrogar tanto as falas ecolálicas, que surgem nesses casos, quanto o que é percebido na clínica como uma exclusão do Outro. Esses aspectos pareciam relacionados à impossibilidade de essas crianças articularem seja uma recusa seja um apelo. Considerei que a hipótese de uma exclusão do Outro se revelava paradoxal em relação à suposição de uma ausência de subjetividade nos autismos. Apresentada por Freud no artigo Die Verneinung (1925), a negação proporcionou um entendimento da articulação entre o dentro e o fora na estruturação do sujeito e do inconsciente na linguagem; pontos fundamentais para pensarmos a articulação corpolinguagem. O retorno ao texto freudiano – no qual encontramos questões que envolvem a psicanálise, a lingüística e a filosofia, em relação à própria concepção de existência – parte de um diálogo entre Lacan e Hyppolite (1954), em que o estudo da negação é relacionado a uma simbolização primordial que se traduz como uma forma de desconhecimento e que se apresentou como um caminho de entendimento da função da falta e do vazio na estruturação do inconsciente e da entrada do Outro no discurso.