Resumo: No artigo La forme et le sens dans le langage, publicado em 1966, Benveniste coloca a necessidade de cindir a Lingüística em duas: uma incumbida das formas da linguagem, que corresponderia à lingüística da língua, já existente; outra, incumbida do sentido da linguagem, ainda por ser constituída. Benveniste considera a lingüística saussureana, tal como é apresentada no Curso de Lingüística Geral, insuficiente para cobrir os fenômenos de sentido da linguagem. Em sua revisão do pensamento saussureano, feita a partir do exame dos escritos originais de Ferdinand de Saussure, Simon Bouquet coloca que, ao contrário, as formulações saussureanas vocacionam a sua lingüística à investigação desses fenômenos a partir do estabelecimento de uma “gramática do sentido”, em continuidade ontológica e epistemológica com a lingüística da língua. A abordagem proposta por Bouquet abre caminho para uma reformulação do conceito de língua, de modo que ela deixe de ser caracterizada como uma entidade estática e passe a incorporar a mudança como parte de sua condição permanente. Nesta hipótese, a mudança lingüística passa a ser abordada como um evento motivado por uma propriedade da própria língua e não como um evento externo que perturbaria sua estabilidade fundamental. Essa propriedade é a convencionalidade, proposta a partir da noção saussureana da língua como convenção e que se manifesta numa atitude tácita das comunidades de falantes, que atribuem sentidos aos termos e zelam coletivamente pela manutenção da integridade da língua como instância partilhada.
Palavras-chave: Saussure, Ferdinand de, 1857-1913; Língua; Convenção (Filosofia); Mudança lingüística; Semântica.