Resumo: Com a atual fragilidade das fronteiras entre os espaços culturais rural e urbano e a inserção, cada vez maior, de crianças de zona rural em escolas urbanas a proposta da presente pesquisa é interpretar as representações que tais crianças de zona rural constroem de si e dos colegas urbanos, que os professores têm sobre os alunos de zona rural e que os pais desses alunos têm sobre sua escolarização e sua educação. Com esse propósito, a geração de dados deste trabalho de cunho etnográfico foi feita em uma escola do interior do estado de São Paulo, baseada em entrevistas, conversas informais e visitas, observação e prática de aulas. Apoiada na fragilidade das fronteiras entre o meio rural e o urbano, a análise dos dados revelou facetas identitárias das crianças de zona rural que levam a defini-las como rurbanas. A sua rurbanidade está presente na fluidez com que com articulam elementos das duas culturas, rural e urbana. Articulação essa necessária no ambiente escolar urbano a partir do momento em que as relações estabelecidas são permeadas por ideologias presentes nas representações dos alunos, professores e da sociedade como um todo a respeito da cultura rural e das variedades não–padrão, que permitem que se reforcem padrões de comparação baseados em valores sociais atribuídos às variedades e a seus falantes, num conjunto de binarismos fruto de ideologias que segregam e excluem. Desse modo, essas crianças passam por processos de auto-invisibilização movidas por conceitos negativos a respeito de sua variedade lingüística e de elementos da cultura rural.
Palavras-chave: Identidades; R(urbanidade); Escolarização; Linguagem.