Resumo: Estudos mais recentes sobre a obra ovidiana têm nos mostrado como o poeta brinca com as convenções genéricas do sistema literário latino. Mesmo se recusando a compor uma épica ou a escrever uma elegia amorosa, Ovídio não deixa de recorrer a esses gêneros para compor uma elegia didática muito singular, os Fastos. Essa sempre intrigou seus pesquisadores no que diz respeito a sua classificação quanto ao gênero literário, pois, a despeito da importância do tema abordado ¿ o calendário romano ¿, o poeta adota o dístico elegíaco que, na tradição latina, era mais comumente empregado em obras amatórias. Ao tratar dessa aparente inadequação entre tema e metro, passagens metapoéticas parecem situar os Fastos acima da obra amatória anteriormente composta pelo poeta. Contudo, temos em diversas passagens trechos que nos remetem à poesia amatória ovidiana e trechos que fazem alusões a obras épicas. Sendo assim, com o objetivo de entendermos como características desses diferentes gêneros emergem nos Fastos, nosso trabalho se propõe, partindo de uma leitura intertextual, analisar como o poeta acomoda elementos épicos e referências a sua obra amatória em seu poema-calendário, levando em consideração os possíveis efeitos de sentidos que alusões a obras de outros gêneros trazem para esse texto ovidiano.
Palavras-chave: Ovídio. Fastos. Livro 2 - Crítica e interpretação. Gêneros textuais. Poesia latina. Metalinguagem. Intertextualidade.