Resumo: Filiando-nos à Análise do Discurso de perspectiva materialista, estudamos a construção discursiva de uma imagem de enunciação/língua política ideal para o lugar social de presidente. Com este propósito, analisamos os discursos presidenciais do período de 1995 a 2008, que compreende os anos dos governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do atual, Luiz Inácio Lula da Silva. Analisamos as configurações discursivas das enunciações destes presidente, constatando a constituição de duas formações discursivas distintas que funcionam como matriz de sentidos do discurso Fernando Henrique, que chamamos DFH, e do discurso Lula, DL. Observando a construção de duas distintas maneiras de enunciar de um mesmo lugar, configurando diferentes línguas políticas (GUILHAUMOU, 1989). a partir das categorias apontadas por Guilhaumou, podemos dizer que a palavra do representante, no DFH, constitui-se a partir de processos metafóricos, de substituição da palavra dos representados; enquanto que no DL, por processos metonímicos, de continuação da língua do povo. A representação por metáfora política configura as posições de locutor e alocutário do discurso político através de categorias institucionais, assim, o representante funciona como líder, e os representados como cidadãos, eleitores. Já a representação por metonímia política, a legitimidade do representante é conferida através do grupo do qual se destaca para representar, e por isso pode, então, continuar a língua do povo. Analisando o DL, observamos que apesar de se configurar a partir de processos metonímicos, este discurso funciona não somente como continuação da língua do povo, mas no entremeio de duas enunciações/ línguas, uma técnica, administrativa e a do povo. Tendo estas análises, observamos o modo pelo qual a grande mídia, especificamente a revista Veja e o jornal Folha de São Paulo, coloca em circulação os discursos políticos presidenciais. Nosso intuito é observar a configuração de uma expectativa em relação à formação discursiva que pode interpretar adequadamente o lugar social de presidente. Nosso estudo indica que o modo pelo qual o DL enuncia produz um estranhamento que coloca em questionamento a legitimidade da língua política configurada neste discurso. A partir deste estranhamento podemos dizer que existe uma imagem de uma língua política ideal a partir da qual os sujeitos inscritos no lugar social de presidente poderiam/ teriam que falar. Isto é reforçado pela constante comparação entre o DFH e o DL, sempre em detrimento deste. A partir das análises que desenvolvemos ao longo deste trabalho podemos dizer que a grande mídia projeta a configuração discursiva do DFH como ideal, interpretando negativamente a configuração discursiva do DL como inadequada. Ao colocar em contraposição este discursos, a grande mídia configura legitimidade ao discurso político que se constitua por processos metafóricos. Assim, concluímos que diferente dos revolucionários franceses que procuraram estabelecer uma equivalência entre a língua do povo e a língua política, o que confere legitimidade, na contemporaneidade, ao discurso político presidencial brasileiro é justamente a distância entre estas duas formas de enunciação.
Palavras-chave: Silva, Luis Inácio Lula da, 1945- - Discursos; Cardoso, Fernando Henrique, 1931- - Discursos; Análise do discurso; Língua política; Discursos políticos.