Resumo: Este trabalho toma como lugar de reflexão e de estudo os processos discursivos de identificação do sujeito brasileiro imigrante clandestino deportado. Através de entrevistas realizadas no Aeroporto Internacional de São Paulo (Guarulhos), no momento em que os brasileiros retornavam de vários países via deportação, às fronteiras do Brasil, estabelecemos nosso corpus de pesquisa e empreendemos um gesto de leitura.
A imigração clandestina, uma prática que burla os circuitos e sistemas legais da mobilidade humana, produz o sujeito imigrante como um transgressor das fronteiras visíveis no mundo. Nesta posição, o imigrante clandestino é aquele que, ao falar de si mesmo, está identificado como um sujeito indefinido no espaço. Ele é um sujeito despessoalizado: juridicamente e subjetivamente.
O corpo material do sujeito, no acontecimento da imigração clandestina, transforma-se em um corpo anormal, já que ser indefinido e despessoalizado implica um sujeito em um tipo de mobilidade negativa, produzindo o estrangeiro como um tipo de monstro. Desse modo, cabe ao transgressor de fronteiras delimitadas a deportação: uma tecnologia política e social de aprisionamento, sofrimento e humilhação.
Os jogos que se inscrevem para definir juridicamente e subjetivamente o imigrante clandestino, mostra que viver indefinido e invisível é um suplício identitário. A deportação, o envio compulsório do estrangeiro para as fronteiras de seu Estado/Nação, torna-se uma ferramenta jurídica que criminaliza a mobilidade humana e humilha o sujeito. Ser humilhado não é apenas viver o sentimento que expõe o homem à impotência de gestos contra uma violência simbólica e política. A humilhação é a política dos sentidos contra os estrangeiros indesejáveis.
Escutar o processo discursivo da posição sujeito brasileiro imigrante clandestino deportado, através das identificações, é acolher os equívocos da relação entre ideologia e inconsciente, nos processos de constituição do sujeito e do sentido.
Palavras-chave: Discurso; Identificação; Imigração; Deportação; Humilhação.