Coordenadores: Markus Lasch (UNIFESP) e Flavia Trocoli (UFRJ)

O minicurso colocará em questão, a partir dos impasses formais entre testemunho e ficção, a afirmação de Jacques Lacan, segundo a qual, “a verdade tem estrutura de ficção”. Tanto do ponto de vista da Literatura, quanto da própria lógica do não-todo lacaniana, é preciso que se decomponha a afirmação para pensar quais seriam os componentes dessa estrutura de ficção – os problemas em torno da enunciação em primeira ou em terceira pessoa, da temporalidade, do ritmo da narrativa, seus enchimentos, que pretenderiam uma certa totalidade, e suas lacunas, indicando uma impossibilidade formalmente inscrita no fragmento. É a cada obra lida, na leitura atenta de seus impasses formais, e não em uma dimensão genérica e predicativa (afinal não foi dito que a verdade é ficção, apontando aí para a dimensão ética), que trabalharemos a passagem, na obra freudiana, dos relatos de casos em Estudos sobre a histeria, 1895, com Joseph Breuer, para a construção de um caso, em Fragmentos da análise de um caso de histeria, 1905. Não nos detendo aí, colocaremos em jogo algumas obras testemunhais, como Paisagens da memória, autobiografia de uma sobrevivente do Holocausto, 1992, de Ruth Klüger, Burned Child Seeks the Fire: a Memoir, 1984, de Cordelia Edvardson ou os já clássicos É isto um homem?, 1947, e Os afogados e os sobreviventes, 1986, de Primo Levi, para discutir, entre outros temas, o imperativo (ético) da individualidade da forma e a estrutura paradoxal do testemunho da catástrofe. Por fim, colocaremos em tensão três textos de Juan Pablo Villalobos: seu último romance, No voy a pedirle a nadie que me crea, 2016, em que parodia os gêneros autobiográficos em geral e a moda literária da autoficção em particular, assim como os “não ficcionais” Yo tuve um suenõ: El viaje de lós niños centroamericanos a Estados Unidos, 2018, e “Memoria fantasma”, 2017.