Coordenador: Walker Douglas Pincerati
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Ementa:

Na introdução de O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise (2017), uma das três organizadoras, a psicanalista Noemi Moritz Kon, escreveu, em À guisa da apresentação: por uma psicanálise brasileira,o seguinte:

Penso que é mais do que hora de avançarmos em direção a uma psicanálise brasileira, que teria o dever de desenterrar, de tirar de sob os escombros do recalcamento e da denegação, as marcas que instituíram nossa nação, facultando a narrativa das agruras específicas e singulares dessa história sempre atual, abrindo espaço para a reflexão e a metabolização das dores infligidas reiteradamente pela colonização, escravidão e exploração de nosso povo, desacomodando-nos do lugar de vítimas e de algozes, restituindo nossa potência ativa e integridade, valorizando toda e qualquer história pessoal em sua diversidade. (KON, 2017, p.28)

A ‘negação’ – a ‘denegação’ – não tem sido o “objeto” discernido apenas por psicanalistas como próprio do funcionamento do racismo no Brasil. Os cientistas e estudiosos sociais, historiadores, artistas, estatísticos, geógrafos e linguistas também têm apontado que vige uma complexa negação no Brasil, ou seja, nas instituições e no cotidiano de todos nós – (não) brancos e/ou (não) negros –, que funda nossa sensibilidade, nossa experiência e, dirão alguns, nossa especificidade no que toca à questão do que é ser negro.

O Negar quer problematizar e analisar a complexidade da negação (no discurso) racista e descobrir qual seria sua especificidade no Brasil, a qual justificaria a ousada proposição de Kon.

Contudo, para atingir esse objetivo é preciso, num primeiro momento, interrogar uma memória, uma história cheia de lacunas existentes e resistentes, afinal hoje o racista apaga suas marcas. Há um recalque em vigor. A proposta é escutá-lo, nesta primeira etapa do projeto, n’A genealogia do racismo, de Michel Foucault ([1976] 1996), a transcrição do curso ministrado no Collège de France entre 1975 e 1976, intitulado Il faut défendre la société. No curso, o discurso racista ou o racismo é um desdobramento de outro discurso, um discurso que surgira entre os séculos XVI e XVII: o da guerra entre uns e outros. O que isso significa ao entendimento do racismo brasileiro e da estruturação de uma complexidade da negação constitutiva do par opositivo branco.negro no Brasil de hoje? Eis a questão.

Programa:

Seminário Negar: 01 de junho, 14 de setembro e 5 de outubro, das 10h00 às 12h00, local a definir no IEL/UNICAMP.

Respectivamente, problematizar-se-á em cada encontro, sobretudo a partir de Foucault (1975-1976), (i) a guerra e o racismo, (ii) o recalque do racista e (iii) o nego brasileiro denegado. Estaremos sempre de olho o quadro do Pedro Américo, “Libertação dos Escravos” (1889).

Para tratar do ponto (i), vou trazer o Foucault – Genealogía del racismo ou Em defesa da sociedade (1975 – 1976) – e Jacques Ruelland – Histoire de l’idée de guerre sainte (2016).

Para tratar do ponto (ii), vou trazer o Foucault – já citado, mas sobretudo o que ele disse que faria e não fez nesse seminário: falar da “repressão” –, Freud – A negação (1925) – e uma tentativa de sistematização do problema da suposta complexidade da negação no contexto brasileiro.

Para tratar do ponto (iii), vou trazer tentar esboçar uma primeira resposta a questão levantada no projeto Negar: qual é a complexidade da negação que nega o negro e se nega ser racista no Brasil? Penso que será importante trazer a biografia de Lilian Schwarcz e Heloisa Starling – Brasil: uma biografia (2015) – para ajudar nesse esboço. E, claro, o quadro do Pedro Américo.

GT Negar, acontece nas dependências da UNIPAMPA Jaguarão, e se reúne no ciberespaço todas as sextas-feiras, das 19h00 às 21h00, para estudar detalhadamente Foucault (1975-1976) e Freud (1925), dentre outros textos importantes aos projetos de pesquisas em andamento.

Bibliografia:

FOUCAULT, Michel. Genealogia del racismo. Buenos Aires, 1996.

_____. Defender la sociedad. Buenos Aires, 2001. Disponível em: https://primeraparadoja.files.wordpress.com/2011/03/1976-defender-la-sociedad.pdf.

_____. Em defesa da sociedade. 2ª ed., trad. Mª Ermantina de A. P. Galvão. São Paulo, 2016.

_____. Il faut défendre la société. Éd. Numérique, 2001. Disponível em: https://monoskop.org/images/9/99/Foucault_Michel_Il_faut_defendre_la_societe.pdf.

FREUD, Sigmund (1925). A negação. In: _____., A negação. Trad. Marilene Carone. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

KON, Noemi Mortiz; DA SILVA, Maria Lúcia; ABUD, Cristiane Curi (Orgs.). O racismo e o negro no Brasil – Questões para a psicanálise. São Paulo: Perspectiva, 2017.

RULLAND, Jacques G. Histoire de l’idée de guerre sainte. Saint-Denis: Connaissances et savoirs, 2016. [Éd. numerique].

SCHWARCZ, Lilia, STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.