FERNANDO MARCILIO LOPES COUTO
Orientador(a): Marcelo Knobel
Mestrado em Teoria e História Literária - 2007
Nro. chamada: T/UNICAMP - C837C
Resumo: A carreira do compositor Chico Buarque de Hollanda teve início ao mesmo tempo em que se consolidava no Brasil o conceito de Música Popular Brasileira – MPB – como nós o utilizamos hoje. Essa denominação surgiu em meados dos anos 1960, reunindo o que então se considerava representativo da genuína cultura brasileira, no âmbito da música. Nesse sentido, a MPB herdava o esforço de um grupo de artistas originalmente ligados à Bossa Nova – como Carlos Lyra, por exemplo – de construir uma arte musical mais comprometida com a realidade social, o que acabaria gerando a chamada “canção de protesto”. Embora a sigla MPB tenha aumentado sua abrangência, excluía algumas correntes musicais, como a da Jovem Guarda, vista então como manifestação juvenil e alienante veiculada pelos meios de comunicação de massa, que atendiam, com isso, aos interesses de despolitização social do estado ditatorial instaurado com o golpe de 1964. Ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Elis Regina, Milton Nascimento, entre outros, o de Chico Buarque associou-se rapidamente à própria definição de MPB. Essa associação talvez tenha contribuído para o obscurecimento de um aspecto fundamental: as reflexões que sua obra apresenta em torno dos conceitos de música, de povo e de Brasil (exatamente as palavras cujas iniciais formam a sigla MPB). Uma análise mais cuidadosa da parte da produção de Chico que trata desses temas mostra um artista em constante questionamento, opondo-se a verdades estabelecidas e a conceitos tomados como absolutos. Assim, a imagem de povo que sobressai da obra é marcada pela pluralidade, fugindo, dessa forma, a uma visão unívoca. Da mesma maneira, o Brasil que emerge da música buarqueana está longe de ser uma entidade plenamente definida. A reflexão em torno da música gira em torno do efeito de transformação social da canção. Enquanto, de um lado, muitas das composições de Chico afirmam esse poder, outras o contestam, produzindo uma obra repleta de tensão e de questionamento. Quando esse questionamento atinge a figura do próprio artista, as reflexões se tornam incisivas. Isso ocorre notadamente nas peças de teatro escritas por Chico Buarque, nas quais sobressai a temática da traição, idéia entendida como um dos perigos que rondam a relação do artista com a sociedade que ele julga representar.
Palavras-chave: Buarque, Chico, 1944-; Música; Música popular brasileira; Brasil.