MONICA FILOMENA CARON
Orientador(a): Maria Laura Trindade Mayrink Sabinson
Doutorado em Linguística Aplicada - 2004
Nro. chamada: T/UNICAMP - C222s
Resumo: A pesquisa pretende contribuir para a compreensão dos efeitos de poder das práticas de psicodiagnóstico através de uma investigação das lettres de cachet (ordens reais usadas no antigo regime francês). Para tanto, na pesquisa investiga-se as possíveis semelhanças existentes entre esses documentos (laudos - ou psicodiagnósticos - e lettres de cachet) perseguindo indícios que apontem para uma arqueologia dos laudos de crianças consideradas anormais por terem dificuldades na escola e/ou na escrita. Apoiamo-nos em FOUCAULT (1975/1986, 1975/2001) para investigar as relações de poder e saber na produção, uso e elaboração de práticas (testes e técnicas) que visam medir e quantificar os comportamentos e os desempenhos dos sujeitos, para produzirem-se os laudos. Organizados ao redor de práticas de avaliar e diagnosticar dificuldades de aprendizagem e/ou dislexia, os laudos são documentos historicamente construídos, repletos de contradições, influenciados diretamente pelo saber médico construído sobre a doença mental. Sob o prisma de uma teoria da linguagem como atividade constitutiva do social, parte-se da hipótese de que os laudos têm/revelam formações discursivas, determinando sujeitos e conhecimentos, fornecendo normas que circulam na sociedade, participando na ordem da ciência, no domínio da política e no comportamento cotidiano. Ao investigar essas formações discursivas é possível trazer para o debate as lettres de cachet e relacioná-las aos processos históricos envolvidos nos modernos laudos psicológicos e à questão do poder sobre o corpo presente nos procedimentos de classificação, ordenação, distribuição e rarefação dos sujeitos. A metodologia de investigação da pesquisa baseia-se no Paradigma Indiciário (Ginzburg, 1986) de investigação das Ciências Humanas e os dados do corpus são provenientes de crianças assistidas em hospital público, vistas como suspeitas de serem portadoras de doença mental por professores, médicos, psicólogos etc
