Gabriel Elias da Pereira
Orientador(a): Sheila Elias de Oliveira
Mestrado em Linguística - 2025
Nro. chamada: DISSERTAÇÃO - P414p
Resumo: As alterações na organização e estrutura da educação brasileira propostas pelo Novo Ensino Médio, nome comumente associado à lei n.º 13.415/17, sancionada pelo então Presidente da República Michel Temer, dividem opiniões entre estudiosos e profissionais da educação, assim como entre outros setores da sociedade. O incentivo a ampliação do período de permanência dos estudantes na escola, além da segmentação das disciplinas em um componente comum e outro flexível, são dois pontos consideravelmente controversos da proposta, seja em sua aprovação ou rejeição. Porém, direcionamos nossa visão sobre outro aspecto da legislação, pouco abordado em debates públicos: o projeto de vida. O § 7º do Art. 3º da lei n.º 13.415/17 estabelece o projeto de vida como elemento a ser considerado na elaboração dos “currículos do Ensino Médio”, sugerindo uma conexão entre o “projeto de vida” e os conteúdos abordados em sala de aula. Com base nisso, perguntamos: o que é esse “projeto de vida”? Quais são as contribuições desse projeto na formação dos estudantes? Na investigação desses questionamentos, propomos o estudo da designação de projeto de vida em cinco materiais digitais da disciplina Projeto de Vida, três deles direcionados ao 6º ano do Ensino Fundamental e dois direcionados a 3ª série do Ensino Médio, produzidos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEDUC-SP), articulados na composição do nosso corpus. A seleção do corpus considerou a projeção de um percurso entre o momento de primeiro contato dos estudantes com a temática e a finalização da educação básica, tendo em vista os sentidos de projeto de vida produzidos nesses dois contextos. Além disso, consideramos os materiais digitais como instrumentos didáticos voltados ao direcionamento de práticas em sala de aula e abordagem do projeto de vida pelos docentes no percurso da disciplina, justificando sua relevância analítica. Nossa perspectiva teórico-metodológica contempla o diálogo entre a Semântica do Acontecimento, desenvolvida no Brasil por Eduardo Guimarães (2002, 2009), e a Análise de Discurso materialista, como objeto de estudo de Eni Orlandi (2007) e Michel Pêcheux (1997). Deste modo, consideramos projeto de vida como uma palavra composta que significa pelo seu funcionamento no acontecimento enunciativo dos materiais digitais. Em consonância com essa visão, também consideramos a linguagem como espaço do político, da contradição e divisão desigual de sentidos, em funcionamento pela relação do projeto de vida e sua significação com a memória interdiscursiva, determinada pela conexão com a história e ideologia. Isso nos orienta ao diálogo com a pedagogia e teorizações na área da educação, como Saviani (2008) e Freitas (2007). Nas análises, colocamos em evidência a tensão entre a significação de uma visão autocentrada como determinante na elaboração e concretização do projeto de vida pelo estudante e a consideração da visão sobre a coletividade no conteúdo dos materiais digitais, predicada pela significação da empatia como “competência socioemocional” a ser desenvolvida pela disciplina.
Palavras-chave: Enunciação; Semântica do Acontecimento; Análise do Discurso; Educação; Novo ensino médio


