Bruna Caires Delgado
Orientador(a): Claudia Regina Castellanos Pfeiffer
Doutorado em Linguística - 2025
Nro. chamada: TESE - D378s
Resumo: A “Educação Corporativa” tem funcionado na sociedade contemporânea, inscrita em um discurso de gestão empresarial (Nogueira, 2015), sob os seguintes efeitos ideológicos de naturalização: a formação dos trabalhadores, no sistema educacional, é insuficiente; às empresas é atribuída a função de educar seus trabalhadores para superar essa falta; a articulação entre os significantes “educação” e “corporativa” sustenta uma ilusão de “novidade”, um caminho inovador para solucionar essa insuficiência. Na busca pela compreensão dos sentidos discursivos da forma material “Educação Corporativa” no Brasil, o foco desta pesquisa é observar a relação histórica entre educação e trabalho e as condições de produção que sustentam a atribuição às empresas da função de educar o trabalhador. A partir da Análise de Discurso Materialista, fundamentada nas obras de Michel Pêcheux e Eni Orlandi, partimos do entendimento de que o sentido é sempre histórico e atravessado por relações ideológicas e, assim, a nomeada “Educação Corporativa” é compreendida: como um sintagma estabilizado em determinadas conjunturas históricas. Há uma longa trajetória histórica de práticas formativas no espaço do trabalho no Brasil que recupero ao narrar a constituição das “Corporações de Ofício”, das “Escolas de Ofício”, dos dispositivos de “Seleção e Ensino Profissional”, da “Educação Profissional”. Observando o Sistema Educacional Brasileiro (SEB), flagro que os sentidos de “Educação Profissional” e de “Educação Corporativa” estão sob efeito de sinonímia que contribui para o apagamento das fronteiras entre ensino formal e formação corporativa. Nesse sentido, volto minhas reflexões para o Serviço Nacional de Aprendizagem (SNA), especialmente o SENAI e o SENAC, instituições fundamentais para a sedimentação do discurso de que é no espaço de trabalho que o sujeito trabalhador deve ser formado. O corpus analítico da tese é constituído por materiais de divulgação institucionais do SESI e do SENAC, além de parcerias com empresas como o iFood e a Unicamp, permitindo observar os deslocamentos e permanências no discurso sobre a formação do trabalhador. Como efeito de conclusão, proponho que a “Educação Corporativa” atua hoje como atualização de processos históricos de disciplinamento e formação para o trabalho, produzindo um sujeito atravessado por exigências de autogestão, adaptabilidade e desempenho: um cidadão corporativo inscrito em um processo discursivo que produz o efeito de apagamento do trabalhador e de seu lugar político, seu lugar na luta de classes.
Palavras-chave: Análise do discurso; Educação e trabalho – Brasil; Trabalhadores – Formação profissional


