Bruna Aparecida dos Santos Santiago Andrade
Orientador(a): Cristiane Pereira Dias
Mestrado em Linguística - 2025
Nro. chamada: DISSERTAÇÃO DIGITAL - An24
Resumo: As mídias digitais, enquanto espaço de constituição dos sujeitos e dos sentidos, tem mostrado projeções simbólicas sobre o funcionamento da sociedade. Em 2020, a notícia sobre uma criança de dez anos, vítima de estupro, gerou grande polêmica nas redes sociais e em diversas mídias do país. O caso ganhou ainda mais repercussão pelo fato de essa criança ter engravidado em decorrência dessa violência. Esse evento instigou uma ampla discussão, sobretudo pela polarização gerada em torno do aborto, com sujeitos posicionando-se contra ou a favor. Tal cenário revelou a presença de efeitos de sentido antagônicos, originados de diferentes sujeitos e formações discursivas. Assim, nosso trabalho tem como objetivo compreender os efeitos de sentido do discurso de ódio nas condições de produção do digital, em sentido estrito, nos comentários de publicações no Facebook sobre o crime de abuso de vulnerável cometido pelo tio da vítima, em 2020, no Espírito Santo. A escolha temática se justifica pela sua relevância social, pois o discurso de ódio também pode representar um crime hediondo, que atinge diretamente os direitos fundamentais e a integridade dos indivíduos – nesse caso, especificamente, uma vítima vulnerável, uma criança. A análise focaliza como o discurso de ódio se materializa nas interações digitais e se imbrica com o discurso jurídico e o discurso digital. Para tanto, com base na Análise do Discurso de viés materialista, buscaremos realizar um gesto de leitura acerca de três comentários retirados do Facebook, os quais evidenciam os efeitos de sentido que remetem ao discurso de ódio. Nesse sentido, esses efeitos, inicialmente dissimulados como opinião, deslizam rapidamente para sentidos outros, violando princípios fundamentais da constituição e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma vez que desrespeitam os direitos e a dignidade da criança e do adolescente. Os resultados apresentados nesta dissertação evidenciam que o discurso de ódio nas plataformas digitais frequentemente se apresenta sob a forma de opinião, mas desliza para sentidos que desumanizam e culpabilizam a vítima, especialmente quando se trata de crianças. Verificamos que esses discursos não viralizam apenas por seu conteúdo violento, mas também pela ruptura de imaginários estabilizados sobre quem os enuncia. Além disso, foi possível observar que o Facebook, como espaço de circulação e regulação do dizer, opera tanto como instância de vigilância quanto de instigância à opinião, contribuindo para a permanência de discursos que violam a dignidade humana. Ao compreender como esses discursos se manifestam e se legitimam, esta pesquisa oferece subsídios teóricos e analíticos para problematizar os efeitos sociais e simbólicos do ódio no digital.
Palavras-chave: Análise de Discurso; Facebook (Rede social on-line); Liberdade de expressão; Discurso de ódio


