Mariana Vilela Leitão
Orientador(a): Susana Oliveira Dias
Mestrado em Divulgação Científica e Cultural - 2024
Nro. chamada: DISSERTAÇÃO - L535c
Resumo: Essa escrita empenha uma trama afirmativa de esforços. Propõe desenvolver o conceito-prática corpo-linha-selvagem, como um modo de estar e fazer mundos, um modo mais amoroso e relacional. Tem a pesquisa teórica-artística em torno da linha para além do aspecto formal das artes visuais e das técnicas das artes manuais. Objetiva fazer perceber as linhas visíveis e invisíveis, tangíveis e intangíveis que nos constitui e nos cerca. A linha como possibilidade de emaranhamentos entre seres, entre vida e morte, entre mundos onde tudo está misturado e nada está ontologicamente separado do resto (COCCIA, 2018). Na companhia de pés de algodão e ovelhas, essa dissertação conflui com a prática ancestral do fiar e sustenta uma metodologia e procedimento de pesquisa artesanal que se dá em quatro movimentos: coletar, esguedelhar, cardar e fiar. O primeiro movimento, a coleta dos materiais de pesquisa, tem o desafio de lidar com eles em sua forma bruta, com um olhar mais voltado ao corpo das coisas e a não separação entre organismo e meio (GREINER, 2008; INGOLD, 2015). O segundo movimento, o esguedelho, evidencia a ação de esmiuçar, reduzir e dar atenção às práticas, principalmente a do fiar e do cultivo. O movimento da carda abre a possibilidade da “alteridade como um estado criativo” (GREINER, 2017) e busca liberar as linhas e promover, a partir da ação de friccionar e ter que “ficar com o problema” (HARAWAY, 2023), um certo alinhamento entre elas, alinhamento não como concordância mas como “confluência” (BISPO, 2022); para, no quarto movimento, o de fiar, buscar a mistura, torção e tensionamento entre os materiais, capaz de produzir um fio-conceito-prática de um corpo-linha-selvagem que se faz em meditação, em poesia, em um pensar vegetal, na relação entre corpos e o meio, sejam eles corpos humanos, não humanos e mais que humanos. Proponho a fabulação da fiandeira como personagem que dará não só a ver as linhas, mas pensar sobre elas e senti-las no e além do corpo. Esta escrita pretende trazer outras lógicas para a relação feminino e linhas, seres e linhas e empenha-se em dar a ver o mundo como uma miríade de linhas múltiplas, sempre em movimento. Fiar e tecer mundos é saber que elas (as linhas) vão emaranhar. Sempre. Num mundo todo vivo há emaranhados diversos que se afirmam em coexistências, onde vida e morte fazem parte da trama, num fluxo-rítmico selvático. Essa escrita-pesquisa-prática é um convite para envolver-se com um modo de fiar com a terra/Terra viva. Palavras-chave: corpo, linha, selvagem, arte, fiar, multiespécie.
Palavras-chave: Corpo; Fiação; Multiespécie