João Francisco Bergamini-Perez
Orientador(a): Aquiles Tescari Neto
Co-orientador(a): Renato Miguel Basso
Doutorado em Linguística - 2023
Nro. chamada: TESE DIGITAL - B452p
Resumo: O estudo dos constituintes adverbiais continua a ser palco para o desenvolvimento de produtivas pesquisas no âmbito da sintaxe e semântica das línguas naturais. Em particular, os adjuntos temporais de medida, constituintes alvo de nosso estudo, estão entre aqueles que ainda carecem de reflexões mais aprofundadas e que busquem efetivamente entendê-los não somente como itens classificatórios de tipos de eventos – assim como analisado pela literatura-base desta tese –, mas também como elementos capazes de modificar as interpretações das sentenças em que estão combinados a partir de recortes temporais específicos feitos por cada um deles em determinadas estruturas sentenciais. Para além dessas discussões, nossa contribuição explora um olhar pormenorizado da composição desses adjuntos (a saber, ‘em x tempo’, ‘por x tempo’ e ‘durante x tempo’) com o objetivo de refletir sobre sua estrutura. Busca-se, com isso, entender se os itens que os compõem (especificamente, o primeiro elemento da esquerda para a direita (‘em’, ‘por’ e ‘durante’) nesses sintagmas) são de mesma classe. Adicionalmente, a investigação se volta também às contribuições de ‘em’, ‘por’ e ‘durante’ para os sentidos veiculados nas estruturas em que figuram. Para tanto, recorremos aos recursos metodológicos e conceituais do Programa Cartográfico, em conjunto com outros estudos que compõem a estrutura da hierarquia funcional (f-seq) que consideramos capazes de nos auxiliar na avaliação das hipóteses que levantamos a respeito do comportamento desses adjuntos temporais. Existem na f-seq duas possíveis zonas onde os itens que encabeçam esses adjuntos podem entrar na estrutura sentencial, a saber, em posição mais alta, as camadas rigidamente hierarquizadas dos advérbios – o Middlefield (Cinque, 1999) –, e, abaixo desta, a camada hierárquica dos PPs circunstanciais – tal qual proposta por Schweikert (2004) e Cinque (2006). Verificamos a hipótese de que a posição de soldagem inicial desses adjuntos temporais se dará numa dessas duas zonas, a depender da classe do item que c-comanda o sintagma de medida temporal que compõe o adjunto: no caso, para a preposição (em/por), a soldagem inicial ocorre na projeção TemporalP – i.e., na zona dos PPs Circunstanciais – e, por sua vez, para o advérbio (durante), a soldagem se dá na projeção AspDurativeP no Middefield, com o sintagma de medida associado (‘x tempo’) se soldando em TemporalP. Com base em uma descrição tanto das diferentes interpretações veiculadas pelos adjuntos 'por x tempo', 'em x tempo' e 'durante x tempo' quanto dos advérbios e preposições que encabeçam esses sintagmas de medida temporal em português brasileiro, esta tese propõe um esquema derivacional capaz de mapear, ao sistema conceitual (LF), as diferentes interpretações associadas aos adjuntos de medida temporal, partindo de ingredientes minimalistas (soldagem 'merge' (interna e externa)) e cartográficos (as hierarquias funcionais propostas em trabalhos da Cartografia (cf. Rizzi, 1997; Cinque, 1999; Cinque e Rizzi, 2010; dentre outros)). O estudo contribuirá, portanto, com debates teóricos atuais no âmbito do programa Cartográfico, visto que colocamos em evidência a maneira como ocorre a valoração de traços, no percurso derivacional, traços esses diretamente relacionados à interpretação das sentenças em que cada adjunto de medida temporal ocorre. O trabalho também contribui com a teoria gramatical como um todo à medida em que propõe uma nova perspectiva de análise dos adjuntos temporais, posto que as interpretações advindas de sua combinação são fundamentalmente caracterizadas por passos composicionais decorrentes da valoração de determinados traços na história derivacional.
Palavras-chave: Gramatica comparada e geral - Adjuntos temporais; Gramatica comparada e geral - Preposições; Gramatica comparada e geral - Advérbio; Gramática comparada e geral - Sintaxe; Semântica