Agostinho da Silva
1906-1994

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   Pois é, amigos homens, lembrai-vos de viver antes de quererdes saber o para quê; e verificardes que, tendo vivido, a pergunta deixa de ter sobre vós o peso terrível. [...]






TÁBUA BIOGRÁFICA

1906 - Nasce na cidade do Porto, aos 13 de fevereiro.
1929 - Doutora-se em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, apresentando a tese Sentido Histórico das Civilizações Clássicas.
1931 - Por encargo da Junta Nacional de Educação, funda o Centro de Estudos Filológicos da Universidade de Lisboa. Realiza Estudos de História e Literatura na Sorbonne e no Collège de France, até 1933.
1933 - Regressa a Portugal, onde trabalha como professor no Liceu de Aveiro.
1935 - É demitido por se ter recusado a assinar uma declaração onde deveria declarar não pertencer a nenhuma organização secreta.
1944 - Por ser adversário do regime autoritário português, transfere-se para o Brasil. Desempenha as funções de professor universitário na Faculdade Fluminense de Filosofia e trabalha nos serviços de Investigação Histórica do Ministério das Relações Exteriores e da Biblioteca Nacional. Leciona também nos "Colegios Libres" do Uruguai e Argentina.
1952 - É professor fundador da Universidade Federal da Paraíba.
1955 - É professor fundador da Universidade Federal de Santa Catarina.
1957 - Reflexões à Margem da Literatura Portuguesa.
1959 - Um Fernando Pessoa. Passa a lecionar na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Salvador, na Bahia, onde funda o importante Centro de Estudos Afro-Asiáticos, que lhe confere base institucional para, como assessor de Política Cultural Externa do Presidente Jânio Quadros, intervir efetivamente na política externa do Brasil relativamente à África.
1960 - Publica As Aproximações na coleção "Filosofia e Ensaios" de Guimarãs Editores (Lisboa).
1961 - Pouco depois da renúncia de Jânio Quadros em 24 de agosto, retira-se da Bahia. Funda o Centro de Estudos Goianos na Universidade Federal de Goiás. Participa, a convite de Darcy Ribeiro, da Fundação da Universidade de Brasília.
1962 - Cria na Universidade de Brasília o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, regressa definitivamente a Portugal.
1983 - Dirige o Centro de Estudos Latino-Americanos do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Técnica de Lisboa.
1989 - Lembranças Sul-Americanas, volume de ficção narrativa.
1990 - É aclamado "patrono" da VII Bienal de Artes de Cerveira (Portugal).
1994 - Morre em Lisboa, aos 3 de abril.



Agostinho da Silva segundo Adolfo Casais Monteiro

   [...]
   Na sua brevidade, Um Fernando Pessoa é de extrema densidade, e a complexidade de todos os problemas em que toca difícil "extrair" da trama da admirável prosa de Agostinho da Silva. Fundamental, parece-me, é acentuar que não se trata de uma análise "literária", seja de velha ou nova crítica, mas duma interpretação que, situando Pessoa em função de Portugal e seu destino, integra a sua obra num plano divino do qual a obra do poeta seria a própria anunciação.
   Para Agostinho da Silva, é a Mensagem a chave de Pessoa inteiro, nela está o sentido de sua obra. Eis o que, melhor do que em qualquer outra passagem, se pode entender através deste fragmento das suas considerações finais, em que diz, depois de se referir à "grandeza do Reino de Deus". "É por esse Império, que nem ele nem os seus companheiros têm a coragem ou a força ou a hora de construir (...), que Fernando Pessoa pensa, escreve, concebe gemidos, sofre recolhido e ignorado morre". A superioridade do ponto de vista de Agostinho da Silva sobre tantas improcedentes exaltações da Mensagem como poema "patriótico", está em ele Ter sabido situá-lo naquele mesmo plano de visão para além da pátria material e estreitamente concebida, como antecipação daquele "Império, que só poderá surgir quando Portugal, sacrificando-se como Nação, apenas for um dos elementos de uma comunidade de língua portuguesa".
   Dei uma pálida idéia da importância do livro de Agostinho da Silva, na intenção, sobretudo, de suscitar a sua leitura; e a significação de ele ter sido escrito no Brasil como que dá uma estranha solenidade a esta mensagem dum intérprete que não só "pensou", mas está cada dia dando realidade à sua idéia generosa, e grandiosa também, duma História do Futuro em que os sonhos de Vieira saem da névoa mítica para se concretizar em atos visíveis e presentes.

ADOLFO CASAIS MONTEIRO



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