Manuel Rodrigues Lapa
1897-1989


TÁBUA BIOGRÁFICA

1897 - Nasce em Anadia (Coimbra), em 22 de abril.
1928 - Entra para a Faculdade de Letras de Lisboa como professor contratado, por indicação de Leite de Vasconcelos.
1930 - Em Paris, doutora-se com a tese Das Origens da Poesia Lírica em Portugal na Idade Média.
1933 - Tem rescindido o contrato der professor da Faculdade, por ter criticado o baixo nível do ensino universitário, mas consegue regressar após concurso em que apresenta a tese O Livro de Falcoaria de Pero Menino.
1934 - Lições de Literatura Portuguesa - Época Medieval, fruto de suas lições na Faculdade de Letras.
1935 - É afastado da Faculdade de Letras por criticar o governo salazarista. Dedica-se ao jornalismo, assumindo a direção d' O Diabo, em substituição a Ferreira de Castro. Dedica-se às investigações literárias, dirigindo as coleções "Textos Literários", da revista Seara Nova, e "Clássicos Sá da Costa".
1937 - Prepara a edição de Marília de Dirceu e Mais Poesias para a Sá da Costa; esta obra, revista e ampliada, é editada em 1942 e 1957, com o título de Obras Completas de Tomás Antonio Gonzaga.
1945 - Estilística da Língua Portuguesa.
1949 - É preso em janeiro, para äveriguações", por se opor ao regime ditatorial de Salazar. É liberado mediante pagamento de fiança.
1954 - Juntamente com Miguel Torga e Casais Monteiro, participa do Congresso Internacional de Escritores, realizado em São Paulo.
1957 - Exila-se no Brasil, onde leciona em várias universidades (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia).
1958 - As Cartas Chilenas: um Problema Histórico e Filológico.
1965 - Prepara a edição crítica das Cantigas d' Escarnho e de Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses.
1969 - Preside o II Congresso Republicano de Aveiro, a convite de Mário Sacramento.
1974 - A 21 de abril, em Ouro Preto, recebe a Medalha da Inconfidência Mineira (cujo patrono é Tiradentes), devido às suas investigações sobre o Setecentismo brasileiro. Regressa a Portugal após o 25 de abril.
1983 - As Minhas Razões - Memórias de um Idealista que Quis Endireitar o Mundo.
1985 - É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante.
1989 - Falece em Anadia, em 28 de março.



   Antigamente vós também se empregava como tratamento de cerimônia, na 2ª pessoa do singular. Um poeta dirigia-se a uma dama e desfechava-lhe este galanteio: Vós sois meu bem e meu mal. Hoje êste modo de dizer está abolido. Os poetas preferem tratar mais democràticamente as suas inspiradoras por tu, encurtando a distância entre um e outro. Note-se porém que em certas regiões nortenhas, não há muito, se dava o fenômeno inverso com os namorados. Quando o namôro estava pegado, rapazes e raparigas que se tratavam normalmente por tu, começavam a tratar-se cerimoniosamente por vós, para dar a entender aos outros que não havia entre si familiaridades comprometedoras. Mais um exemplo, entre tantos outros já alegados, da influência dos costumes na linguagem.

   M. RODRIGUES LAPA, Estilística da Língua Portuguesa.

   [...]
   Aquilo a que chamamos pròpriamente "historiografia quinhentista", aparece sòmente na segunda metadedo século XVI: os seus mais altos representantes sõ Gaspar Correia, Lopes de Castanheda, João de Barros, Damião de Góis e e Diogo do Couto. A história do País considerava-se agora quase exclusivamente o registro da sua expansão ultramarina. A nação vivia do Oriente e para o Oriente; por isso não é de estranhar que os historiadores dos reis D. Manuel e D. João III ocupem a quase totalidade das suas páginas com os sucessos dessas distantes paragens, dando menor atenção à vida civil, econômica e moral da própria terra.
   Esta preocupação, imposta pelas circunstâncias, anda de par com o entusiasmo patriótico motivado pelos altos feitos dos Portugueses no Oriente. Uma tamanha expansão dum tão pequeno povo tinha criado o ciúme, o espanto e a admiração da Europa. Letrados e humanistas viviam então enlevados nas façanhas guerreiras dum Alexandre, dum César, da antiga Grécia e Roma. Nisto, porém, eram obrigados a reconhecer que a glória do presente, da actualidade portuguesa, obscurecia largamente a do passado. É em João de Barro que se nota, mais do que em nenhum outro historiador, este sentido épico da navegação e da conquista. As navegações dos Antigos - diz ele - eram uma brincadeira, comparadas com a dos Portugueses.
   [...]

   M. RODRIGUES LAPA, Historiadores Quinhentistas.



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